Umas notas breves sobre a nova matriz curricular
para o 1ºciclo.
Ainda que não entenda a opção por uma "Oferta Complementar", parece-me importante que o Inglês passe a estar
integrado no currículo em vez de integrar as AECs, pois não sendo estas obrigatórias
potenciavam-se assimetrias na acessibilidade a uma língua estrangeira no 1º
ciclo.
Nunca fui particular adepto do modelo que
envolvia as áreas não disciplinares Área de Projecto, Estudo Acompanhado e
Educação para a Cidadania pois das duas uma, ou são conteúdos relevantes e deverão
ser "disciplinares" ou não são conteúdos relevantes e deveriam ser
opcionais ou eventualmente dispensáveis. Acontece que apesar da imensidade de
práticas e abordagens que se realizavam ao abrigo destas "Áreas não
disciplinares", levando a que coexistissem trabalhos notáveis de alunos e
professores com laxismo, negligência e irrelevância educativa, alguns dos potenciais
conteúdos nestas áreas são essenciais, por exemplo as questões da formação
cívica e da cidadania pelo que veriam ocupar um espaço curricular próprio,
claro, e não integrados numa estranha "Oferta Complementar".
Por outro lado, transforma-se o anterior "Estudo
Acompanhado" que, em alguns casos não era Estudo mas era Acompanhado simplesmente
porque os miúdos não estavam sós, num Apoio ao Estudo, obrigatório e visando
sobretudo o reforço do apoio a Português e Matemática. É a lógica de Nuno Crato
em matéria de currículo, Português e Matemática, Português e Matemática, uma
língua estrangeira e pouco mais. É verdade que se torna fundamental garantir
competências e saberes em Português e Matemática, as ferramentas de construção
do conhecimento, mas a educação escolar é bem mais do que isso. Por outro lado
não entendo muito bem a razão pela qual o Apoio ao Estudo é de frequência obrigatória.
Na verdade, ou trata-se de uma forma habilidosa de aumentar de forma indirecta
as horas de trabalho em Português e Matemática e assim sendo todos os alunos deverão
frequentar ou trata-se de apoiar os alunos que experimentem maiores
dificuldades prevenindo e combatendo o insucesso pelo que não deveria ser
obrigatório.
Finalmente uma nota para sublinhar a continuidade
no trajecto de "disciplinarização" do 1º ciclo com a atribuição de
"tempos lectivos" a todas as áreas curriculares que contraria a
lógica da Lei de Bases ainda em vigor mas é coerente com a burocratização do
trabalho lectivo e que se estenderá certamente à educação pré-escolar.
Infelizmente é tão real!
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