O Dr. Paulo Portas lançou um pungente e sentido
apelo para que os professores não realizem greves em época de exames uma vez
que "se as greves forem marcadas para os dias dos exames, prejudicam o
esforço dos alunos, inquieta as famílias e também não é bom para os
professores, que durante todo o ano escolar deram o melhor, para que aqueles
alunos pudessem ultrapassar os exames". Portas volta ao já conhecido papel
de "parceiro bom" da "coligação má" expressando a sua
compreensão e respeito pelo protesto, o seu apreço pelo diálogo e o apelo para
que tudo corra bem.
Também o Ministro Nuno Crato já tinha afirmado de
forma mais formal, não sabe fazer o papel de "parceiro bom", que "não
permitirá que os alunos sejam prejudicados". Entretanto, o Ministro tem vindo a subir o tom recorrendo aos manuais da demagogia e da tentativa de manipulação da opinião pública no sentido de diabolizar os professores. É um clássico, o Ministro é um bom aluno na disciplina de "Manhosice".
Algumas notas repescadas.
Em primeiro lugar é difícil realizar uma greve
que não tenha algum impacto na comunidade, esse é, justamente, uma das
componentes do próprio processo da greve, seja em que sector de actividade for.
Parece-me também claro que os professores, na sua
esmagadora maioria, prefeririam certamente não sentir motivos para realizar a
greve, portanto, criar algumas dificuldades a pais e alunos. É
também claro que muitos professores se sentem suficientemente maltratados pelas
políticas educativas para que possam enveredar pela greve, dentro do quadro
legal existente, com as consequências previsíveis.
Sei também que a educação é, desde sempre,
permeável, às diferentes agendas dos interesses políticos próprios da
partidocracia, nenhuma dúvida sobre isto e que também não esqueço a propósito
da greve agora anunciada. Aliás, já o tenho afirmado, do meu ponto de vista,
parte dos problemas que afectam o nosso sistema educativa radicam na deriva
política e na agenda dos interesses partidários que se movem sempre no universo
da educação.
Quanto às referências de Paulo Portas e de Nuno
Crato sobre os prejuízos causados aos alunos uma brevíssima reflexão.
Também não fico satisfeito por o afirmar
mas parte das medidas de política educativa que o MEC tem vindo a
desenvolver e a implantar prejudicam os alunos e prejudicam seriamente. Creio que
o futuro próximo se encarregará de confirmar isso mesmo.
Excessiva concentração de alunos em
mega-agrupamentos, turmas sobrelotadas, reformas curriculares que na verdade
são sobretudo formas de dispensar professores, falta de dispositivos de apoio e
de recursos técnicos que apoiem o trabalho e as dificuldades de alunos e
professores, normalização dogmática de procedimentos e formas de avaliação
negando ou comprometendo a equidade e a acomodação das óbvias diferenças
entre os alunos, burocratização do trabalho dos professores através de umas
insustentáveis, nos termos em que estão definidas, metas curriculares, etc.,
etc., são medidas que claramente prejudicam ou vão prejudicar os alunos. Por
isso afirmo que alguns dos problemas dos professores são também problemas
nossos.
É também por isto tudo que continuo a achar muito
actual a existência de uma figura há muitos anos defendida pelo enorme João dos
Santos, um Provedor da Criança (ou da Educação), alguém que por "obras
valerosas" e posicionado fora do sistema assumisse com clareza o
"superior interesse da criança.
Até lá, à vez e por diferentes actores, os mais
novos, os alunos, serão "prejudicados".
Não têm voz.
Os aparelhos instalados o melhor que sabem ir fazendo é uma norte-coreana série de sucessões dinásticas mais ou menos disfarçadas de propósitos realmente democráticos e cidadãos… Ninguém é insubstituível em democracia! Pelos vistos, por estas bandas, é esta a realidade facilmente constatável pelas listas de candidatos que vão aparecendo, transversalmente a todo o espectro político…Chegados a este ponto, que fazer?
ResponderEliminarA maioria deitou a toalha ao chão, basta ver as taxas de abstencionismo em todos os actos eleitorais… Extraordinariamente surgem casos de rotura com este situacionismo alácre e vicioso, mas, regra geral, são sol de pouca dura ou rapidamente caem nos mesmos círculos viciados que pouco antes rejeitavam… Veja-se os casos de novas formações políticas, mais ou menos recentes ou os ditos grupos de independentes, um pouco por todo o lado…
É assim que o comum dos cidadãos se vai cada vez mais desinteressando pela polis, pela participação no jogo político e cada vez mais se vai virando para projectos e instituições de cariz não governamental ou tão simplesmente ligado à raiz da vida colectiva de todos nós… E aí, sim, é bom de ver a democracia a funcionar, as renovações a operarem-se e os frutos a aparecerem como resultado de roturas ou continuidades. Acima de tudo, como flores e frutos de muito empenho, participação activa, livre e solidária de tantos, avessos às luzes da ribalta, humildemente dando o seu valioso contributo para causas que realmente valem a pena e que vão muito para além da pobre vaidade humana dos pianistas de ocasião e dos vendedores de ilusões que, tristemente, se vão alinhando em consecutivos actos eleitorais nesta agora pobre praia à beira rio / mar plantada…
Concordo globalmente com a leitura que faz da partidocracia em que vivemos
ResponderEliminar