AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 14 de junho de 2013

HABEMUS EXAMEN? Crónicas de uma greve anunciada

Dado que as reuniões com os sindicatos dos professores não permitiram, como seria previsível nesta fase do processo e no actual quadro político, um acordo que fizesse cair a greve, o MEC ponderou, referiu a imprensa, adiar os exames de Português e Latim do dia 17, o da greve, para dia 20 tendo obtido a garantia dos sindicatos de que não marcariam novas greves em cima de datas de exame.
Desenvolvimentos posteriores indicam que Nuno Crato mantém a data de realização dos exames para o dia 17. Do meu ponto de vista, o interesse dos salunos, o mil vezes referido interesse dos alunos, não foi acautelado. A guerra política, a conflitualidade política presente assim o determinam, sejam quais forem os argumentos que ainda esta noite, consta, o Ministro possa apresentar para a decisão embora, previsivelmente assentem na responsabilização dos sindicatos que, por sua vez, responsabilizam o MEC:
De facto, adiar seria a mais óbvia e ajustada das decisões logo que o Colégio Arbitral não definiu os serviços e sugeriu justamente o dia 20 para a realização das provas.
Como me parecia claro, se o MEC aceitasse a sugestão do adiamento, os sindicatos ficariam obviamente inibidos de proceder à marcação de uma nova greve para essa data, pois tal decisão teria um preço em termos de comunidade elevadíssimo e retiraria certamente apoios aos professores para além de uma provável divisão na classe, obviamente indesejada pelos sindicatos. De facto, seria de todo o improvável que a FNE ou a Fenprof decidissem nesse sentido mesmo que pelas agendas partidárias pudesse ser uma tentação, aliás, é minha convicção que a adesão a este processo de contestação está para além da real influência dos sindicatos o que talvez não acontecesse com uma nova greve em cima de uma nova data.
Por outro lado e como referi noutro texto, o Governo, o MEC, ao não aceitar a sugestão de adiamento do exame por parte do Colégio Arbitral, encetou uma fuga para a frente que tinha todas as condições para acabar mal e, então sim, prejudicar verdadeiramente os alunos. Na verdade, a convocação de todos os professores para as sedes do agrupamento não garante a realização dos exames e potenciava exponencialmente o risco da instabilidade e da incerteza, representando, por assim dizer, o deitar gasolina na fogueira com o efeito previsível, como se verificou, de radicalizar a crispação e o protesto. A adesão à manifestação de hoje constituirá, provavelmente, um indicador do que pode acontecer no dia 17.
A decião agora conhecida de os manter vai, provavelmente e gostava de estar enganado, mostrar isso mesmo.
Como também já referi, esta persistência insensata de Nuno Crato, acompanhada de um permanente discurso demagógico e de diabolização dos professores procurando apoios, e alguns obteve, na comunidade e na opinião pública e publicada, recordou-me o célebre enunciado de uma sua antecessora, Maria de Lourdes Rodrigues, que também num período de forte conflitualidade com os professores em 2006, afirmava, "perdi o apoio dos professores mas ganhei o da opinião pública".
Acontece que o MEC não administra o sistema com a opinião pública ou publicada, felizmente ou infelizmente, administra o sistema com políticas educativas promotoras da qualidade, exigência do trabalho de direcções, professores, funcionários, técnicos, alunos e pais.
Poder-se-ia com senso político, obviamente difícil num terreno fortemente permeável às agendas da partidocracia, ainda minimizar o impacto de todo este período que não serviu globalmente a educação em Portugal. O Ministro escolheu fugir para a frente. Não é grave mudar de ideias e de entendimentos sobre qualquer matéria, antes pelo contrário, é sinal de inteligência, o que é grave, é persistir e sustentar algo que tem todas as condições para correr mal e atropelar, desta maneira sim, os alunos.
Vamos aguardar os desenvolvimentos no que respeita aos problemas profissionais dos professores e a muitíssimas outras matérias que ameaçam a escola pública de forma cada vez mais evidente e nessa perspectiva não são problemas apenas dos professores, são também nossos.
Resta, apesar de tudo, desejar boa sorte aos alunos para a época de exames que vai, parece, iniciar-se da forma que não devia.

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