Escreveu-se mais um capítulo, não será o último,
da narrativa, como agora se diz, sobre o processo de contestação em desenvolvimento
pelos professores. Contrariamente às expectativas do Governo, o Colégio Arbitral
decidiu não decretar serviços mínimos para assegurar a realização do exame previsto
para dia 17, o de Português do 12º, sugerindo que o exame se realize a 20.
Do acórdão do Colégio Arbitral queria sublinhar algo
que me parece importante, a afirmação de que, cito, "instabilidade nos
alunos e famílias já existe face ao conflito que há muito opõe o MEC e
professores". Aliás, o recurso que o MEC decidiu apresentar desta decisão, dado o aproximar do dia 17 vai justamente aumentar a instabilidade pois prolonga a incerteza
Este enunciado parece-me importante pois entendo
que os discursos que sucessivamente têm vindo a ser produzidos por parte da
tutela, por umas razões, por parte dos representantes dos professores e dos
próprios professores (nem sempre
coincidem), por outras razões e ainda
pelos pais ou seus representantes, ainda por outro conjunto de razões, bem como
a incerteza quanto ao que vai acontecer, são, do meu ponto de vista mais
susceptíveis de criar instabilidade nos alunos que a alteração do exame. De uma
forma geral, os alunos reajustarão os seus planos de estudos, são gente
inteligente, e apresentar-se-ão nas provas apenas com a ansiedade que releva,
naturalmente, de uma situação de avaliação.
Parece-me importante afirmar esta confiança nos
alunos e nas suas competências e capacidades.
O que parece menos positivo é o constante
discurso de diabolização dos professores que também recebe um fortíssimo
contributo por parte de algumas afirmações dos que os representam e que
degradam, enfraquecem, a imagem social dos docentes com reflexos sérios e
negativos na relação que a comunidade estabelece com eles.
Entregamos todos os dias os nossos filhos nas
mãos de uma classe que para cumprir o seu enorme e insubstituível papel na
construção do futuro, precisa, para além da competência, de ter a confiança da
comunidade.
Como já o afirmei, não me pronuncio sobre a
bondade dos protestos no plano estritamente profissional dos professores, mas
também afirmo que alguns dos problemas que sentem são também problemas nossos
na medida em algumas das medidas de política que os envolvem também têm
consequências na qualidade do seu trabalho, na qualidade da escola pública e,
portanto, no bem estar e futuro dos
alunos.
Na verdade, algumas das medidas de política
educativa não servem os alunos, prejudicam-nos, causam instabilidade, terão,
como eu queria estar enganado, sérias consequências. Não vou repetir os
exemplos, muitas vezes deles aqui tenho falado, cito apenas os mega-agrupamentos
e o aumento de alunos por turma, mas muitos aspectos poderíamos referir dos
quais não se vislumbra como podem representar melhoria no sistema público de
educação.
Com uma ponta de demagogia, isto pega-se, poderia
ainda referir que milhares de alunos estão a ser prejudicados por políticas que
empobrecem as suas famílias e lhes roubam o bem-estar, alguns chegam mesmo com
fome à escola onde encontram a estabilidade de uma refeição.
Finalmente, repito, estou convicto que a esmagadora
maioria dos alunos vai apresentar-se nas provas com a ansiedade que ajuda e não
com a instabilidade que inibe. Assim nós, todos, façamos a nossa parte.
Este Governo, tal como o anterior, está a trabalhar para privatizar o ensino. Quem puder pagar, paga forte e feio para ter os filhos em colegios estilo GPS das Caldas, geridos por clientela política (lembram-se do escândalo?). Para as autarquias fica a escola pública, transformada em armazéns de crianças, sem condições para haver ensino a sério. É pelos meus alunos e pelos meus netos que faço greve, pois o grande mal a mim já o fizeram. Sinto a opinião pública do nosso lado.
ResponderEliminarTrata-se da agenda que referi em texto anterior.
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