Também o Ensino Superior, tal como o país, parece atravessar um Programa de ajustamento. Para além dos graves problemas de financiamento
que têm motivado sucessivos alertas e preocupações públicas por parte de reitores e
presidente de politécnicos, dos efeitos dos processos de avaliação em curso no
âmbito a actividade da Agência para a Avaliação e Creditação do Ensino Superior,
o MEC propõe agora quotas mínimas de alunos para que os cursos possam manter-se em funcionamento.
A proposta remetida
ao Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e ao Conselho Coordenador
dos Institutos Superiores Politécnicos define o mínimo de dez alunos inscritos no
ano lectivo anterior para que os cursos se mantenham em funcionamento. Se tal
não acontecer, esses cursos não poderão receber novos estudantes e serão
encerrados. Esta determinação envolverá 171 cursos maioritariamente de Institutos
Poliécnicos do interior do país.
Começa a fazer-se sentir, tarde do meu ponto de
vista, a intenção de promover um imprescindível ajustamento numa rede de ensino superior clara e
comprovadamente sobredimensionada como aqui tenho referido com regularidade.
Relembro uma afirmação do Professor António
Nóvoa, reitor da U. de Lisboa, uma das vozes que mais tem referido a
necessidade de racionalização da rede, "Portugal não deveria ter mais do
que sete ou oito universidades públicas. E estou a ser benevolente"
afirmou.
O ensino superior em Portugal é, como muitíssimas
outras áreas, vítima de equívocos e de decisões políticas nem sempre claras.
Uma das grandes dificuldades que enfrenta prende-se com a demissão durante
muito tempo de uma função reguladora da tutela que, sem ferir a autonomia
universitária, deveria minimizar o completo enviesamento da oferta, pública e
privada, que se verifica, um país com a nossa dimensão são suporta tantos
estabelecimentos de ensino superior, sobretudo, se atentarmos na qualidade. O
MEC parece querer agora assumir esse papel regulador.
Durante demasiado tempo as regiões e autarquias
reclamavam a instalação de estabelecimentos de ensino superior com a maior das
ligeirezas. A pressão vinda da procura e a incapacidade de resposta do
subsistema de ensino superior público associada à demissão da tutela da sua
função reguladora, promoveu o crescimento exponencial do ensino superior com
situações que, frequentemente, parecem incompreensíveis à luz de um mínimo de
racionalidade e qualidade quer no sistema público, quer no sistema privado.
Nesta matéria, a qualidade e o redimensionamento
da rede, espera-se também que o processo em curso de Avaliação e Acreditação do
Ensino Superior se revele um forte incentivo, seja eficaz, resista à inevitável
pressão dos interesses em causa e desenvolvido de uma forma competente e clara e não apenas com critérios administrativos como o número de alunos.
Importa ainda não esquecer que existem cursos que
apesar de alguma menor empregabilidade potencial se inscrevem em áreas
científicas de que não podemos prescindir com o fundamento exclusivo das actuais
características do mercado de emprego. Podemos dar como exemplo formações na
área da filosofia ou nichos de investigação que são imprescindíveis num tecido
universitário moderno. Será também importante que o processo permita
desenvolver e incentive modelos de cooperação, universitário e politécnico,
público e privado, que potencie sinergias, investimentos e massa crítica de que
o processo de fusão entre a Clássica de Lisboa e a Técnica pode constituir um
exemplo que se deseja bem sucedido.
O enviesamento da oferta de que acima falava,
alimenta a formação em áreas menos necessárias, não promove a formação em áreas
carenciadas e inflacciona as necessidades de financiamento. Tal facto,
conjugado com o baixo nível de desenvolvimento do país e com uma opinião
publicada pouco cuidadosa na informação, leva a que se tenha instalado o
equívoco dos licenciados a mais e destinados ao desemprego, quando continuamos
a ser um dos países da UE com menos licenciados, já o disse aqui muitas vezes.
Uma nota final para o impacto que o conjunto de
enormes dificuldades que as famílias atravessam e os cortes no financiamento no ensino superior
estão a ter no abandono de muitos estudantes do ensino superior.
Sendo certo que a rede deve ser racionalizada,
importa que os estudantes lhe possam aceder. Trata-se do investimento no futuro.
Acredita mesmo que a fusão entre as Universidades Clássica e Técnica foi feita a pensar no país ou no interesse da Universidade Portuguesa no seu global ou mesmo no dos seus funcionários e alunos? Talvez uma visita pela(s) loja(s) mais próxima(s) dos Senhores Reitores lhe possa(m) dar a resposta, e tudo isto com o beneplácito do Senhor Ministro Crato que passou dos alegres amanhãs que cantam para as águas infestadas de aventais...
ResponderEliminarTambém não sou ingénuo e sei que nas diversas lojas tudo se vende e tudo se compra. No entanto existe, de facto, um problema de sobredimensionamento da rede.
ResponderEliminarNum ensino superior politécnico que já anunciava doutoramentos em parcerias com universidades, o panorama da habilitação dos seus docentes é elucidativo, pelo menos, segundo dados divulgados pela Direcção-Geral do Ensino Superior, “Análise de todos os Docentes em 2008 por Categoria”, INDEZ2008, reportados a 31 de Dezembro de 2008, num universo de 8.181 docentes, no ensino superior politécnico, 35 tinham habilitação ignorada e os demais a seguinte habilitação: - 49 décimo segundo ano ou menos; - 30 Curso de Especialização Tecnológica; - 111 Bacharelato; - 2.796 Licenciatura; - 73 Pós-Graduação; - 3.602 Mestrado; - 1.485 Doutoramento.
ResponderEliminarTambém por isso referi a questão da qualidade, embora a qualificação docente não seja, evidentemente, o único critério
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