Uma das medidas que o Governo vai propor
prende-se com as rescisões de mútuo acordo a envolver milhares de funcionários
da administração pública. Devo confessar que o léxico que nos últimos anos
entrou no universo laboral me embaraça.
Fala-se de excedentários com que importa acabar
como se não estivéssemos a falar de pessoas. Na verdade, esta gente acha que as
pessoas são excedentárias, são descartáveis, há que libertar os mercados do
peso desta gente inútil.
Um outro termo é o trabalho precário, flexível como
essa gente gosta de afirmar, que torna precária uma vida sem confiança no
amanhã e, portanto, sem projecto de vida. Relembro que temos a segunda mais
alta taxa de precariedade da Europa.
Também me parece curiosa a ideia hoje reafirmada de
rescisão por mútuo acordo ou amigável que, amigavelmente é claro, manda
milhares para o desemprego. Como é sabido boa parte das rescisões
"amigáveis" são estabelecidas, impostas, sem margem negocial a
pessoas altamente fragilizadas e vulneráveis que entre o nada e a migalha
"escolhem amigavelmente" a migalha".
No fundo, as pessoas deixam de ser pessoas, são
activos que como tal devem ser geridos em função do mercado, adquirem-se,
dispensam-se, descartam-se, gerem-se e, finalmente, abandonam-se. Veja-se o que
tem acontecido a muitos milhares de pessoas que têm sido mandadas para o
desemprego, mais de metade das quais sem subsídio.
Também entrou no nosso quotidiano a referência à "mobilidade especial", outra "oportunidade" que cada vez mais parece significar a antecâmara do desemprego
Afirmo com frequência que uma das consequências menos quantificável das dificuldades económicas, sobretudo da precariedade e do desemprego, em particular o de longa duração, situação em que o tempo pode obriga a perder o subsídio, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas, algo de devastador.
Afirmo com frequência que uma das consequências menos quantificável das dificuldades económicas, sobretudo da precariedade e do desemprego, em particular o de longa duração, situação em que o tempo pode obriga a perder o subsídio, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas, algo de devastador.
Todo este quadro, que alguns referem como uma “bomba
social”, levanta uma terrível e angustiante questão, os milhares, muitos, de
pessoas envolvidas vão (sobre)viver de quê?
As medidas hoje anunciadas no fundo assentam no
alvo do costume, funcionários da administração e pensionistas e reformados e
confirmam a incapacidade do Governo de considerar qualquer outra via que não
seja cumprir fielmente a cartilha de quem verdadeiramente nos governa, a troika em nome dos mercados e que,
como é óbvio, pensa “que se lixem as pessoas”.
ResponderEliminarParece-me que as medidas anunciadas hoje ao País são uma bomba relógio... e quem assiste (impávido e acometido de amnésia momentânea que impede que a desarmem) à contagem decrescente é o próprio governo...
Mas o que mais temo, é que este e qualquer governo seja incapaz de travar este flagelo, espero estar enganado...
Espero mesmo...