AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 16 de maio de 2013

ALGUNS DOS PROBLEMAS DOS PROFESSORES SÃO TAMBÉM PROBLEMAS NOSSOS

Algumas das estruturas representantes dos professores marcaram uma acção de greve para o primeiro dia de exames. É evidente que a posição se deve inscrever num posicionamento profissional face às circunstâncias e condições que envolvem o exercício da sua profissão sobre o qual não me pronuncio. Terão entendido que tais circunstâncias e condições exigem um protesto desta natureza. Uma greve de professores, para mais na época de exames assume, naturalmente, impacto significativo. Quem decide avalia, deve avaliar, esse impacto e pondera a decisão.
No entanto, do meu ponto de vista, para além dos problemas de natureza profissional que estão em discussão, e que não abordo, entendo que alguns dos problemas dos professores são também problemas nossos quando está em causa a qualidade da escola pública e do trabalho de alunos, professores e pais. Nesse sentido alguma notas repescadas e dirigidas sobretudo ao olhar muitas vezes produzidos sobre o trabalho dos professores e o seu significado.
Queria relembrar desde logo algo que de tão óbvio por vezes se esquece, a importância essencial e a responsabilidade que o trabalho dos professores assume na construção do futuro. Tudo passa pela escola e pela educação. Assim sendo, as mudanças na educação só podem ocorrer e ser bem sucedidas com o envolvimento dos professores.
Alguns dos discursos que de forma ligeira e muitas vezes ignorante ocupam tempo de antena na imprensa, basta ler os muitos dos comentários às notícias on-line respeitantes a professores, parecem esquecer a importância deste trabalho e das circunstâncias em que se desenvolve ou discursos de alguns "opinion makers" que na vertigem de falar sobre tudo mais não mostram que ignorância e preconceito.
Pensemos no que é ser professor hoje, em algumas escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente guetização social produziram.
Pensemos em como os valores, padrões e estilos e vida das famílias se alteraram fazendo derivar para a escola, para os professores, parte do papel que compete à família.
Pensemos na forma como milhares de professores cumprem a sua carreira de poiso, em poiso, sem poiso e sem condições de pensar num projecto de vida familiar com estabilidade. E não nos esqueçamos também da imprescindível necessidade de que o seu trabalho seja avaliado através de dispositivos sólidos, eficazes e justos de forma a proteger a própria classe, os miúdos e as famílias.
Pensemos nos professores que nos ajudaram a chegar ao que hoje cada um de nós é, aqueles que carregamos bem guardadinhos na memória, pelas coisas boas, mas também pelas más, tudo contribuiu para sermos o que somos.
Pensemos na deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Assume especial actualidade, o aumento de alunos por turma conjugado com os mega-agrupamentos, o corte de recursos, mudanças curriculares, etc. um conjunto de medidas que parecem ter como eixo central a dispensa de professores, de milhares de professores que, na sua grande maioria são necessários. Ficarão sem trabalhar, não porque sejam incompetentes, a maioria não o é, não porque não sejam necessários, a maioria é, mas “apenas” porque é preciso cortar, custe o que custar.
Pensemos em como os professores são injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir à afirmação de uma qualquer ignorante barbaridade, vai, numa espécie de exercício sadomasoquista, entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que, ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas.
Pensemos como é imprescindível que a educação e os problemas dos professores não sejam objecto de luta política baixa e desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem como seus representantes.
Pensemos em como a forma como os miúdos, pequenos e maiores, vêem e se relacionam com os professores está directamente ligada à forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem.
Pensemos, finalmente, como ser professor deve ser uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente.
Exige-se pois que se defenda a qualidade da escola, pública e também privada e que se defendam e criem as condições para que o trabalho de professores, alunos e pais tenha o melhor resultado possível.

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