AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 6 de abril de 2013

OS TEMPOS DA INDIGNIDADE

Alguns moradores da Av. Almirante Reis estão a instalar grades nas arcadas dos edifícios para evitar que as pessoas sem abrigo utilizem os espaços das arcadas. A medida é justificada com questões de segurança e acessibilidade aos edifícios e ao que parece tem aumentado o número de pessoas nessa condição nesta zona sendo que algumas terão vindo de áreas da cidade de onde foram expulsas. Por outro lado, alguns moradores e a Junta de Freguesia entendem que a medida não é uma solução pelo que se desejam outro tipo de iniciativas ou políticas.
A questão da pobreza é uma matéria que se presta a demagogia e discursos populistas e que dificilmente se evitam. Isto quer dizer que não me parece positivo uma apressada condenação das pessoas que colocam as grades, provavelmente, elas próprias também não concordam com a medida mas convivem com um realidade que as assusta e que não imaginam alterar-se.
O mundo assimétrico, promotor de exclusão, pobreza e guetização social,  cai-nos em cima produzindo situações, muitas situações de pessoas, sem abrigo, que na verdade, não têm nada, aguentam tudo e só são notícia neste tipo acontecimentos, quando chegam as vagas de frio ou quando aparecem gratos e contentes naqueles jantares oferecidos no Natal que sempre compõem indecorosos espectáculos mediáticos. É certo que as pessoas sem abrigo são pessoas com capacidades de adaptação e para preparados para suportar limites que, de acordo com Fernando Ulrich, as tornam um paradigma de resistência para todos os cidadãos.
Continuam os tempos de chumbo, os tempos da indignidade.

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