Com alguma regularidade o Público trata uma
matéria, o ensino discriminado, a que, do meu ponto de vista, num enorme
equívoco se chama ensino diferenciado, ou seja e no caso, escolas para rapazes
e escolas para raparigas.
Desta vez insere uma entrevista com Abigail
Norflet James, uma especialista em ensino discriminado. Durante a entrevista, James
procura enunciar um conjunto de argumentos “científicos” que, no seu entendimento,
sustentam a bondade de separar os meninos das meninas.
Como é evidente e reconhecido pela comunidade
científica, existem diferenças de género. A questão não é essa. A questão
central é se as diferenças entre as pessoas devem, ou não, levar a que sejam
arrumadas pela sua diferença e que daí advenham vantagens para todos, sublinho,
para todos, e da discussão de quais os limites a esta separação. E aqui, de uma
forma geral, a ciência não sustenta a opção, apenas os valores e as convicções
o fazem.
Em 2011 esteve em Portugal David Chadwell também apresentado
como especialista em ensino diferenciado, em formação para o corpo docente do
Colégio Planalto e numa conferência na U. Católica, para explicar como se devem
ensinar os rapazes que, por serem rapazes, devem frequentar escolas, claro, só
para rapazes. Uma nota breve sobre a designação, o equívoco a que me referi.
Ensino diferenciado significa a mobilização de metodologias de trabalho
educativo que procurem responder à diversidade dos alunos na sala de aula, ou
seja, sendo as salas de aula constituídas por grupos heterogéneos em diferentes
critérios, torna-se necessário encontrar respostas diferenciadas para as
diferentes características mantendo as crianças juntas. Não existem grupos
homogéneos, nem constituídos por gémeos. David Chadwell será especialista em ensino
discriminado, o que representa exactamente o contrário de diferenciação
educativa.
Em 2007 o especialista convidado foi o Professor
Cornelius Riordan, sociólogo, que proferiu também uma conferência sobre as
vantagens das escolas só para rapazes ou só para raparigas.
Não discuto, uma questão colocada por Abigail Jones,
a escolha dos pais e encarregados de educação da escola que desejam para os
seus filhos. Ainda assim importa considerar que a liberdade de escolha é
condicionada por múltiplos factores e pode assentar em critérios como público
ou privado, dimensão, estatuto social predominante, laica ou religiosa, com
farda obrigatória ou não, com formação de natureza militar ou não, com
co-educação ou com separação de géneros, estabelecimentos em moda, etc. Num
esforço de alargamento de opções poderá colocar-se até a possibilidade de se
desejarem escolas para alunos com excesso de peso que terão, naturalmente, um
plano curricular reforçado no âmbito da actividade física e cuidados redobrados
na alimentação ou escolas para qualquer forma de minoria para que, ideia
peregrina, fiquem mais protegidas dos excessos das maiorias, etc. basta
escolher os critérios e enumerar as “vantagens”. Estas escolhas assentarão,
necessariamente, no conjunto de valores, cultura, representações, expectativas,
etc. dos pais. Trata-se de uma opção que lhes assiste.
A questão mais substantiva e que justifica o meu comentário
é a afirmação de que escolas separadas por género são melhores e alguma da
sustentação aduzida. Nem James, Riordan ou Chadwel apresentam evidência
consistente sobre a superioridade do ensino discriminado assente nas diferenças
entre rapazes e raparigas. A defesa do modelo é um enunciado de convicções e de
referências pedagógicas sem qualquer solidez no que respeita ao que entendem
ser as necessidades escolares diferentes dos rapazes e das raparigas, algumas
de uma ingenuidade bonita, os rapazes acham que se distraem menos por não ter
raparigas na sala. É pouco, muito pouco. Recordo que Riordan afirmou na altura
que mais de metade dos estudos não é conclusiva sobre os efeitos positivos, mas
crê nas vantagens das escolas separadas. Porque sim.
De uma forma extraordinária, justificou, por
exemplo, que a questão do assédio sexual que, segundo ele, terá estado na base
da tragédia na Universidade Virgínia Tech !!! Para demagogia não está mal.
Defendeu também que as políticas educativas promotoras da equidade nos géneros
faliram porque, afirmou Riordan, o facto de as raparigas terem actualmente um
maior acesso por exemplo ao ensino superior e, frequentemente, melhor
rendimento académico, implicou a transformação dos rapazes “num grupo
claramente em desvantagem” o que só se resolve se forem para escolas separadas.
Não lhe ocorre um momento pensar na organização, qualidade e modelos dos
processos educativos, certamente um pormenor.
Uma outra questão interessante e não
habitualmente abordada, remete para os limites da educação separada. Será
desejável até ao fim do secundário ou será melhor prolongar também durante o
ensino superior e, entretanto, começar o processo de separação do mercado de
trabalho também por géneros, uma vez que em adultos também homens e mulheres
têm características diferentes?
Termino como comecei, entendo como totalmente
legítima a existência de valores e convicções que sustentem a opção pela
educação separada mas, por uma questão de honestidade intelectual, não os
mascarem de ciência.
Em Portugal a relação entre o ensino diferenciado e a Opus Dei é pura coincidência. Aliás a Margarida Rebelo Pinto escreveu sobre isso.
ResponderEliminarAbraço
António Caroço
Parece-me que a escola deve ser integrista dos 2 géneros, as aulas com uma simetria aproximada ( quase igual qto ao número de alunos de ambos os sexos)e o mesmo qto aos professores...eu andei numa escola diferenciada, porque eram assim as escolas privadas nos anos setenta...o mesmo para os alunos estrangeiros em vista à partilha da riqueza cultural que constitui esta inclusão..
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