O Dr. Isaltino foi convidado pela RTP para contar
a sua narrativa e contrariar a narrativa que tem vindo a ser construída sobre
si pela imprensa inimiga. Apresentou-se como um angélico cidadão e uma vítima
de um conjunto de malfeitores e circunstâncias. Até contraiu um empréstimo para
custear a sua defesa, não sendo, pois, e ao contrário do que muitos dizem, um
homem de posses. Onde é que eu já vi este filme?
Na verdade, tal como o Dr. Isaltino refere, teve
azar, foi escolhido para tentar mostrar que a justiça em Portugal funciona. É
mesmo azar. Para cúmulo da injustiça e perseguição até foi condenado a prisão
efectiva que, evidentemente, não cumpriu nem espera cumprir, era o que faltava.
Assim sendo, a narrativa continua, segundo a
última contabilidade e após a sentença condenatória, em 2009, o Dr. Isaltino já
apresentou 44 recursos, 29 dos quais após Setembro de 2011, que lhe custaram
cerca de 133 000€, para além dos honorários dos advogados custeados com o empréstimo
a que miseravelmente o obrigaram e que certamente terá dificuldade em liquidar.
Aliás, o Dr. Isaltino ate afirmou na entrevista que poderia ter apresentado
mais recursos, mas é, obviamente, um homem comedido, apenas os necessários para
continuar a andar por aí.
É muito importante que o Dr. Isaltino não desespere.
Tenho para mim que este caso virá a morrer por morte morrida, para usar as
palavras de João Cabral de Melo Neto, ou seja, cairá por esgotamento. Assim, o
Dr. Isaltino poderá ter uma reforma tranquila com a herança que receberá do
sobrinho que tem na Suíça e os trocos miseráveis resultantes de uma vida
dedicada à causa pública.
No meio do azar, coitado, até teve sorte,
felizmente amealhou um bom pé-de-meia que nos tempos que correm não é coisa
pouca.
Mais sério, a tragédia é que lemos tudo isto sem
um sobressalto de indignação, este fim está escrito nas estrelas, é o destino
de um sistema em que são recorrentes a demora, a manha nos processos judiciais
com a utilização de legislação complexa, ineficaz e cirurgicamente construída
para ser manhosamente usada por quem a construiu que, com base em expedientes
dilatórios, promove a injustiça, ou seja, é uma justiça manifestamente marcada
pelas desigualdades de tratamento como, aliás, como Ministra já referiu, etc.
É verdade que foram recentemente introduzidas
alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal que, não sendo um
especialista, não consigo avaliar do seu eventual impacto no cenário actual. No
entanto, continuo a entender que não existe uma determinação sólida e
consensual de alteração da teia de ineficiência que é a nossa justiça apesar da
retórica das afirmações. Sofrem os cidadãos individualmente e sofre a qualidade
da vida cívica de um país que percebe o seu sistema de justiça como forte com
os fracos, fraco com os fortes, moroso, ineficaz e, definitivamente injusto. É
mau, muito mau.
Alterações no Código Penal, no Código de Processo Penal ou qualquer outro preceito emanado de autoridade soberana, não me dá garantia absolutamente nenhuma que haja equidade na justiça Portuguesa. Estamos carecas de saber que existem leis no papel e ignoradas na aplicação.
ResponderEliminarÉ o triste dilema de um País com um corpo demasiado pesado para as pernas.
VIVA!