E de que serve o livro e a ciência
se a experiência da vida
é que faz compreender a ciência e o livro?
...
(In A Cena do Ódio de Almada Negreiros)
Lembrei-me deste pequeno excerto da enorme obra
de Mestre Almada a propósito da discussão aberta sobre as obras de alguns
economistas que têm inspirado as políticas de austeridade e assentam, verificou-se
agora, em cálculos e análises erradas. Na verdade e em bom rigor acaba por não
surpreender a forma como meia dúzia de cientistas da economia conseguem
produzir um conjunto de modelos e políticas que clara e assumidamente conduzem
ao empobrecimento e à exclusão de boa parte da gente.
As políticas são decididas recorrendo a
infalíveis "modelos econométricos", pensadas numa redoma asséptica e
virtual, fora da realidade.
As pessoas são liofilizadas e encerradas nas
folhas de Excel que traduzem nos ecrãs os modelos sofisticadíssimos que geram e
gerem a agonia em que a vida de milhões se tornou, devido às experimentações
que alguns poucos cientistas com uma fé cega e mágica nos seus modelos teóricos
que enchem manuais e artigos que circulam entre o restrito grupo dos iniciados
e eleitos e os levam, numa espécie de circuito fechado, à produção de mais
modelos e mais teorias sempre com a mesma orientação.
As teorias e os modelos estão sempre certos, como
não, a ciência não erra, por isso é ciência.
As pessoas, a vida das pessoas é que é
desconforme, não cabe nos modelos mas não tem problema, muda-se a vida das
pessoas mesmo que para bem pior, os modelos estão certos.
Esta gente não vai ser capaz de compreender a
vida das pessoas, não vai compreender o desespero do desemprego e do roubo à
dignidade. Não vai perceber como a sobrevivência de mão estendida insulta e
envergonha.
Esta gente não é gente, não tem alma nem coração.
Já morreram mas ainda não deram por isso.
Os meus livros devem ser lidos pelo menos duas vezes pelos muitos inteligentes e daí para baixo é sempre a dobrar
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In O Manifesto Anti-Dantas por José de Almada Negreiros Poeta Futurista e Tudo
Abraço
António Caroço