De manhã, quando saiu de casa sentia-se a pessoa
mais realizada do mundo, ia ao banco tratar de liquidar o crédito contratado
para adquirir o andar. Era um alívio com a crise que por aí anda. Já no banco,
ao proceder ao acerto de contas percebeu que ainda podia pagar o que faltava do
empréstimo para a compra do carro. Ainda mais feliz ficou.
Sem estar a pagar a casa e o carro, o orçamento
ficava mais folgado. À saída já imaginava que, finalmente, poderia ir com a
mulher e o filho fazer aquelas férias no Brasil com que sempre sonhou. Pensou
também que quando chegasse a casa ainda veria com a mulher se não era possível
comprar uma televisão grande, um plasma, igual ao do cunhado, que é muito bom
para ver os filmes e os jogos de futebol.
Vinha a entrar em casa e já imaginava os olhos
contentes do gaiato, quando lhe dissesse que agora pelo Natal talvez pudessem
comprar um computador novo, porque o outro parece que está muito lento. Vinha
no elevador e assobiava de contente.
Era o dia mais perfeito dos últimos anos, quase
tão perfeito como o do seu casamento. Enquanto abria a porta a felicidade
deu-lhe para dançar. No meio do balanço do corpo começou a sentir algo de
estranho.
A sua mulher, deitada ao lado na cama, olhava-o
com ar esquisito enquanto o abanava, “Acorda, pára de te mexeres, o despertador
já tocou, olha que te atrasas para o autocarro e podem despedir-te”.
Por momentos imaginei-me no mesmo. Quando cheguei á ultima frase pareceu-me como no texto algo intangivel excepto em sonhos...
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