Ao que se lê no Público os alimentos tornaram-se
o segundo produto mais roubado nas superfícies comerciais a seguir aos artigos
de higiene pessoal. Assim sendo, regista-se a continuidade da preocupação com o
aspecto e com a aroma que deixamos, são importantes a imagem e a limpeza, e emerge a necessidade de aconchego do
estômago, próprio ou familiar, provavelmente mais um efeito colateral da crise. No entanto, é de recordar a afirmação de Belmiro
de Azevedo, em 20/06/2010 numa palestra no ISG, que defendia a legitimidade do roubo quando se tem fome, pelo que até
se estranha a regularidade com que os grupos económicos processam pessoas que
roubam alimentos de valor insignificante. Certamente que a marca Continente e
as outras insígnias do grupo Sonae assim não procedem.
Estando nós mais habituados a uma actividade
nesta área realizada na escala dos milhões, muitos, que voam da banca, de
empresas em falências fraudulentas, em comissões mal explicadas, em
inconsequentes derrapagens financeiras nas obras públicas sendo ainda que tudo
isto se passa na maior das impunidades é, devo confessar, sempre com alguma
perplexidade que vejo a captura e julgamento destes pilha galinhas, bandidos
saqueadores e perigosos enquanto os seus colegas de actividade, mas de outra
dimensão, de outra escala, se passeiam por aí dedicando-se à sua lucrativa arte
e vivem tranquilamente à sombra dos rendimentos.
É importante que estes casos de actividade
delinquente cheguem a julgamento e sejam severamente condenados para, por um
lado, alimentar a ideia de que a justiça funciona e, por outro lado,
devolver-nos um sentimento de confiança nessa justiça e de que percepção de
impunidade instalada é, evidentemente, falsa.
Com este regresso dos pilhas galinhas damos mais
um passo na desejada democratização da nossa economia, roubam todos, é apenas
uma questão de escala.
Numa nota final, confesso que sinto uma
adolescente e romântica simpatia pelos pilha-galinhas.
Desde que não roubem nada meu...
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