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segunda-feira, 4 de março de 2013

O SOZINHISMO MATA

No que me parece ser uma iniciativa interessante, o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social pretende alargar a rede de Centros de Noite, estruturas já existentes mas em pequeno número, destinadas a acolher idosos que vivem sós e que, dadas as suas condições de vida e autonomia, poderão manter-se durante o dia na sua casa, no seu aconchego e vizinhança, recorrendo aos Centros apenas durante a noite.
O número de idosos a viver sós tem aumentado exponencialmente. Segundo os dados dos Censos de 2011, cerca de 1,2 milhões de idosos vivem sozinhos ou na companhia de outros idosos,  sendo que o grupo populacional com 65 ou mais anos de idade já ultrapassou os dois milhões, representando cerca de 19% da população total, pelo que o número de pessoas idosas a viver só, deverá continuar a aumentar.  
Neste universo é ainda de recordar a frequência com que surgem notícias de velhos que morrem sós sem que ninguém se dê conta de tal tragédia.
Não sou, não quero ser, especialista nestas matérias mas creio que muitas destas pessoas morrem de sozinhismo, a doença que ataca os que vivem sós e perderam o amparo. Algumas pessoas terão morrido de solidão e não de outras causas que possam vir a figurar nas certidões. Quem não vive só mais facilmente resiste às mazelas que a idade traz quase sempre. As pessoas são, espera-se, fonte de saúde e calor. E este universo, as pessoas velhas que vivem só e em isolamento tende a alargar-se conforme os dados do Censo confirmam. Em Lisboa, segundo alguns trabalhos, estima-se uma "realidade de total isolamento diário para 59 por cento da população que reside sozinha, evidenciando um risco de solidão” e completamente dependentes das relações de vizinhança comunitária, elas próprias em extinção. Este cenário ilustra o contexto em que uma rede eficaz e próxima de Centros de Noite pudesse ter um papel muito positivo se entretanto não tiver enviesamento de objectivos.
Na verdade, o sozinhismo poderá ser verdadeiramente a causa de morte de muitos idosos. No entanto e como sempre, para além das necessárias políticas sociais emergentes do estado e das instituições privadas de solidariedade impõe-se a percepção pelas comunidades, designadamente pelas famílias, do drama da solidão e do isolamento. Os dados recolhidos e, portanto, conhecidos devem servir de base a políticas ajustadas à realidade.
É também uma questão de redes sociais, mas não das virtuais.

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