Segundo Relatório da Comissão Nacional de
Protecção de Crianças e Jovens, nos primeiros seis meses de 2012 registaram-se
232 casos de abandono de crianças por parte dos pais. Estes dados envolvem
situações de abandono em hospital ou na rua, crianças deixadas sós quando os
pais se ausentam, etc.
Este universo preocupante esconderá problemas de
natureza variada que irão desde a gravidade da situação económica em algumas
famílias, os custos dos serviços para a infância que nem sempre os tornam
acessíveis, a desorganização, imaturidade e instabilidade de algumas dinâmica
familiares até, naturalmente, à negligência pura e dura.
Como é evidente a comunidade tem a responsabilidade,
embora nem sempre os meios e os procedimentos, para proteger as crianças deste
tipo de situações.
No entanto para além destes dados, relativos a
crianças abandonadas ou rejeitadas, existe uma outra realidade, menos
perceptível em termos globais, mas conhecida por aqueles que lidam de mais
perto com as crianças e que remete para a quantidade enorme de situações de
crianças abandonadas e rejeitadas dentro das famílias, algumas destas famílias
até com um funcionamento aparentemente normal.
Pode parecer estranha esta abordagem, mas muitas
crianças vivem em famílias, vários tipos de família, que, por variadíssimas
razões as não desejam, as não amam, apenas as toleram, cuidam, pior ou melhor,
sobretudo nos aspectos "logísticos", quando o fazem, evidentemente.
Em alguns casos, são mesmo crianças a que "não falta nada",
dizem-nos. Na verdade falta-lhes o essencial, um colo de uma família.
Quando penso nestas situações lembro-me sempre de
uma expressão que ouvi já há algum tempo a Laborinho Lúcio num dos encontros
que tenho tido o privilégio de manter com ele.
Dizia Laborinho Lúcio que "só as crianças
adoptadas são felizes, felizmente a maioria das crianças são adoptadas pelos
seus pais”. Na verdade, algumas crianças não chegam a ser adoptadas pelos seus
pais, crescem sós e abandonadas.
Existem mais crianças a viver narrativas desta
natureza, abandonadas e ou rejeitadas dentro da família, do que se pode
imaginar.
Bom dia Professor,
ResponderEliminarAcho muito bonita a frase do Dr. Laborinho Lúcio por quem tenho enorme respeito e consideração e que até já foi falar num colóquio da Sociedade Portuguesa de Psicanálise.
No entanto quem trabalha com crianças adoptadas sabe que as problemáticas entre filhos biológicos e adoptados divergem em dúvidas básicas: quem são os meus pais biológicos? Onde estão? Já morreram? Porque estou numa situação de adopção?
Estas questões são muito difíceis de gerir para miúdos e graúdos. Se me é permitido aconselhar um livro de uma pessoa com muita experiência e bom senso deixo uma sugestão: "Este filho que não tive" do Dr. João Seabra Diniz.
Abraço
António Caroço
Claro que entendo o que refere mas o sentido da frase de LL é de âmbito mais "genérico". Um abraço
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