Por aqui e por ali vão surgindo sinais cada vez
mais evidentes do descontentamento e sobretudo da desesperança que se traduzem
em comportamentos de hostilidade. Os últimos episódios dirigidos ao
"Dr." Miguel Relvas e ao Primeiro-ministro são apenas exemplos.
Este sentimento emerge, naturalmente, das
dificuldades progressivamente mais pesadas, e para muitos já insustentáveis, da
dignidade ameaçada e, importa acentuar, das imprudentes, insensatas e
inaceitáveis declarações e comportamentos de algumas lideranças.
A voz insuspeita do Cardeal Patriarca de Lisboa,
D. José Policarpo, avisa, "o país aguenta tudo menos o poder
imprudente".
Se bem estarão recordados os mais atentos, há
algumas semanas atrás, um especialista em saúde mental referia num trabalho divulgado
na imprensa os riscos potenciais de alterações do comportamento que derivam do
grave conjunto de dificuldades que muitos portugueses atravessam.
A instalação de uma clima de desconfiança face ao
poder e ao futuro e a desesperança em mudanças significativas em tempo útil, em
cima de situações como desemprego, por exemplo, podem provocar níveis de
sofrimento que potenciem fenómenos reactivos de natureza agressiva mais
extremados e dirigidos a terceiros, os identificados como responsáveis, caso
dos ocupantes da cargos políticos de relevo, ou mesmo dirigidos contra si
próprio através do suicídio, como também se tem verificado.
Dito de outra maneira, os comportamentos correm o
risco de forma cada vez mais intensa conterem cargas emocionais que potenciam o
seu descontrolo. Aliás, se bem atentarmos nos testemunhos recolhidos em
manifestações ou protestos é bastante clara a carga emocional que envolve os
comportamentos observados e que se traduzem em comportamentos extremados como
verificamos na Grécia, em Espanha ou no extremo do recurso à tragédia das
imolações ou do suicídio como forma de protesto.
Assim, um contexto de situações de desemprego,
pobreza e exclusão percebido como resultantes de decisões políticas é
fortemente perturbador das pessoas e ajuda a explicar o aumento significativo
dos casos de perturbações depressivas ou da ansiedade ou de comportamentos de
natureza mais agressiva.
Se a tudo isto ainda juntarmos sucessivas declarações,
algumas inaceitáveis e insultuosas, de pessoas com funções públicas de relevo,
está criado um caldo de cultura potencialmente explosivo e onde facilmente
germinam os excessos.
É frequente a afirmação de que somos um povo de
brandos costumes. A questão é que, como dizia Camões, todo o mundo é composto
de mudança, tomando sempre novas qualidades. Um dia cansamo-nos de ser bons
rapazes.
TODOS OS DIAS, EM TODOS OS LUGARES, EM TODOS OS MOMENTOS DEVEMOS ESTAR LÁ, A CRIAR EROSÃO ATÉ QUE O GOVERNO DESABE, JÁ NÃO NOS VOU SENTINDO BONS RAPAZES, JÁ NÃO ME VOU SENTINDO BOM RAPAZ!
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