Na imprensa de hoje surge uma referência ao
desenvolvimento de um Projecto Programa Young Health Programme – Like ME, em Portugal
sob orientação da Professora Margarida Gaspar de Matos que, em termos sintéticos,
promoverá um trabalho com adolescentes integrados no Programa Escolhas, a
operar em contextos socioeducativos vulneráveis, visando a posterior
colaboração desses adolescentes em trabalho com outros adolescentes da sua
comunidade, sobretudo em dimensões ligadas à saúde mental.
Uma primeira nota para registar o trabalho muito
importante que tem vindo a ser desenvolvido no âmbito do Programa Escolas em diversas
comunidades e que tem proporcionado um excelente conjunto de boas práticas e
intervenções positivas.
Embora a ideia de envolver os próprios sujeitos
na intervenção e não os considerar “apenas” como destinatários da intervenção
não seja inédita, é na verdade muito pouco operacionalizada entre nós.
Costumo dizer, em termos de educação escolar, que
os alunos não têm que ser entendidos “só” como (recursos) sujeitos da aprendizagem,
mas também como (recursos) sujeitos da ”ensinagem”.
A sustentação deste tipo de intervenção, quer em
termos teóricos, quer em termos mais práticos aconselha a sua maior utilização,
embora contrarie o modelo mais clássico da intervenção “especializada” e, portanto,
apenas operada por especialistas. Daí, provavelmente, a sua menor utilização.
Em contextos e comunidades mais vulneráveis, mas
não só, a existência de elementos dessa comunidade integrados em redes de
mediação, apoio e acolhimento das dificuldades de outros elementos, pode
constituir-se como uma ferramenta muito potente de intervenção e eficácia em
muitos aspectos, pela proximidade, conhecimento e natureza das relações sociais
existentes entre elementos da mesma comunidade.
Estes elementos podem cumprir um papel central,
alguém com quem conversar, que escute, que tenha disponibilidade e não exerça
"um cargo" mas sim uma função na vida dos outros adolescentes e
crianças.
Muitas vezes tenho abordado no Atenta Inquietude
como é excessivamente frequente a situação de miúdos que se sentem perdidos, na
escola e na família, com dificuldade ou incapacidade, por razões de vária
ordem, de dialogar com os adultos do seu contexto de vida, quer escolar, quer
familiar. Como é previsível, a sua quase exclusiva companhia será a de outros
adolescentes tão perdidos e abandonados quanto eles.
Neste contexto, a existência de figuras próximas,
das suas relações e faixa etária, disponíveis, com quem é possível estabelecer
relações de confiança e disponibilidade que amorteçam mal-estar e ameaças, e
contribuam para pensar, repensar, orientar escolhas e trajectos, que ajudem a
emergir competências e projectos, não podem deixar de assumir um papel
importante na vida de muitos dos adolescentes, e não só, envolvidos nestes
programas.
Parece ainda de sublinhar o facto deste tipo de programas,
apesar de globalmente poderem ter uma tutela institucional, se desenvolverem
numa situação de proximidade, sem o peso de uma instituição e, portanto, mais
facilitadora de relações próximas, menos formais, de maior confiança.
Bom trabalho.
Boa tarde Professor:
ResponderEliminarSem tirar mérito ao projecto, parece-me que um programa de saúde mental sob a orientação da Professora Manuela Gaspar de Matos e com o patrocínio da AstraZeneca, cheira-me a miúdos e jovens medicados com Ritalina e coisas afins. Não sei porquê.
Abraço
António Caroço
Talvez esteja a ser injusto, a Professora Margarida (não é Manuela)Gaspar de Matos não é seguramente uma "defensora" da ritalinização dos miúdos. Um abraço
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