Segundo o Eurobarómetro da Comissão Europeia, nós
portugueses somos dos que menos conhecimentos assumimos ter sobre os nossos
direitos como europeus e, sem surpresa, também somos o país que menos
interessado está em conhecer os seus direitos, enquanto cidadãos da União
Europeia.
Sem a pretensão de uma análise profunda do ponto
de vista sociológico ou político gostava de deixar algumas notas sobre estes
dados.
Em primeiro lugar creio que ainda é de considerar
para uma população mais sénior, como agora se chama, o peso de herança de décadas
de cidadania como muitas dimensões inibidas e que poderão sustentar alguma menor
"apetência" pelas questões da cidadania. Um outro aspecto, importante
do meu ponto de vista e que vários estudos confirmam, os mais novos também
expressam uma menor disponibilidade e motivação para a participação cívica e
para a atenção às questões da cidadania. Há ainda que considerar que este
quadro assenta num modelo de "partidocracia" que capturou boa parte
do que pode ser o envolvimento, participação e vivência das diferentes dimensões
da cidadania, tornando-se difícil o exercício dos direitos de cidadania, nos
seus aspectos mais políticos e cívicos fora dos aparelhos partidários.
Por outro lado, creio que em Portugal após a
integração na União Europeia se instalou a ideia de que a "Europa"
era para nós fundamentalmente uma fonte de rendimentos e não uma
"fonte" de direitos. "Precisávamos" mais dos
"dinheiros", dos subsídios para tudo e mais alguma coisa do que do
eventual, desconhecido e desinteressante acréscimo de direitos e, naturalmente,
de responsabilidades.
Finalmente uma nota sobre algo que nos é muito
familiar, parece existir uma entidade mítica responsável por tudo, sobretudo de
menos bom, o que nos acontece e nos diz respeito. Não, não estou a falar de uma
entidade divina, estou a falar de algo mais complexo, se assim se pode dizer.
Estou a referir-me a “ELES”. Se bem repararem, “ELES” estão absolutamente
enraizados nos nossos discursos quotidianos. Apenas alguns exemplos. “Só querem
o deles”, “Eles é que mandam”, “A culpa é deles”, “Eles querem assim, a gente faz”,
“Eles apanham-se lá e estão-se nas tintas”, “Eles não fazem nada”, “Eles
aumentam tudo”, “Isso é que era bom, faço como eles, que se lixe”, “Eles só
fecham coisas”, “Eles só falam”, “Eu fazer mais? Façam eles”, “Eles têm grandes
ordenados e depois não chega para a gente”, “Eles dão maus exemplos querem que
a gente faça o quê?”, “Eles estão cheios dele e a malta na miséria”. “Eles
pensam que somos parvos”, "Eles lá na Europa decidem e a gente
lixa-se", etc. etc.
O mais curioso, é que quando se tenta perceber
sobre quem objectivamente estamos a falar, parece que se trata de todos menos
de mim, ou seja, é sobre ELES. E assim explicamos a nossa vidinha.
Creio que o nosso desconhecimento e também o desinteresse
em conhecer os nossos direitos como cidadãos europeus podem relacionar-se com
estes aspectos.
PS – Por vezes, a referência a “ELES” é
substituída pela fórmula, “OS GAJOS” o que empresta uma natureza bastante mais
popular aos discursos.
Porque é fácil apontar o dedo, porque é fácil culpar os outros invés de nos olharmos ao espelho. Porque é fácil criticar, a apresentar soluções, e porque até mesmo quando são apresentadas soluções, essas vêm camufladas disto e daquilo, ou são muito "lindas" na teoria, mas na pratica mal aplicadas, (o que acaba por provar que o "trabalho de casa" não foi assim tão bem feito) quer seja porque não tiveram em conta a sociedade, os valores, as mentalidades. Enfim...
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