AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

AS DÍVIDAS DOS PORTUGUESES

Partilho convosco uma parte do diálogo que imprudentemente estabeleci com o Velho Zé Marrafa, lá do Meu Alentejo enquanto andávamos a limpar umas silvas demasiado crescidas lá no Monte.
...
Pois é Mestre Zé, diz no jornal que cada português vai pagar no próximo ano 732 euros dos juros da dívida. Já viu?
Deve ser engano, Sr. Zé, eu cá não devo nada a ninguém. Na minha vida, nem eu nem a minha senhora gostámos de comprar alguma coisa sem ter dinheiro, Não tenho, não compro.
Mas Mestre Zé, você já ouviu falar que foi preciso que os estrangeiros emprestassem dinheiro à gente por o nosso país estava sem dinheiro.
Se o nosso país estava sem dinheiro foi porque o gastaram, não fui eu que o gastei, só gastei do meu dinheiro. Desde o 25 de Abril que faço descontos e já tinha feito descontos para a Casa do Povo. Houve uns anos que não descontava, foi logo quando comecei no Monte Velho, a guardar porcos, tinha nove anos, nesses anos não descontava. Mas depois descontei sempre.
É verdade Mestre Zé, mas foram feitas muitas coisas, estradas,  auto-estradas, pontes, hospitais, escolas novas e teatros nas vilas e gastaram muito dinheiro.
Mas aqui não fizeram obras dessas. E se não tinham dinheiro não as faziam. Agora há esse enleio.
Mas fizeram e agora tiveram que pedir emprestado e por isso é que temos de pagar.
Sr. Zé você estudou diga-me lá se isso está certo. Eu paguei tudo o que tinha que pagar, só gastava dinheiro quando tinha dinheiro para gastar e ele e nunca foi muito, não se ganha muito dinheiro a trabalhar no campo, mas não tinha, não comprava. Os que mandavam gastaram mal o dinheiro que havia, fizeram coisas sem ter dinheiro e agora a gente é que tem de pagar. Você acha que tá certo? Isto é coisa de gaiatos que não sabem o que fazem.
Mas vamos ter que pagar.
Está mal, se eu não pagar as minhas dívidas, eu é que sou responsável, essa gente malina é que fez as asneiras e agora vamos pagar, não pago.
Achei por bem não responder e continuámos a limpeza das silvas num valado do monte. Deve ter sido impressão minha, mas pareceu-me ouvir lá muito ao longe um coro a cantar a Grândola, vila morena.

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