AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

SE SÃO LEGAIS, NÃO FAZEM MAL. Pois não?

Enquanto se aguarda pela anunciada iniciativa legislativa de as criminalizar, continua a comercialização das designadas drogas legais nas chamadas “smartshops” ao abrigo de uma ambiguidade legal que tem graves consequências. João Goulão, presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência tem vindo a alertar para o aumento do consumo e para a crescente gravidade e número de problemas de saúde daí decorrentes. Hoje, em Beja, três adolescentes foram hospitalizadas por esse motivo.
Uma das razões que alguns estudos identificam para o consumo deste tipo de substâncias é justamente o facto de serem “legais”, ou seja, se são legais é porque “não fazem mal”, como alguns jovens consumidores afirmam.
A “smartshop” de Beja onde as adolescentes terão adquirido as substâncias já tinha sido encerrada pela ASAE e encontrava-se de novo em funcionamento.
Existem algumas matérias que por variadíssimas razões sempre deverão estar na agenda das preocupações, a questão da droga e dos vários tipos de consumo, incluindo o álcool, é uma dessas matérias.
Nos últimos dias foi também notícia o aumento do consumo e das reincidências atribuíveis ao quadro de dificuldades que atravessamos e à fragilização pessoal e social que essas dificuldades possam induzir.
Todo este quadro torna verdadeiramente necessária uma política de prevenção, tratamento e combate ao tráfico eficaz e, tanto quanto possível, com os recursos adequados.
Há algum tempo foi noticiado que em virtude dos limites orçamentais o Instituto da Droga e da Toxicodependência iria prescindir dos serviços de algumas centenas de técnicos, psicólogos e assistentes sociais, que integravam as unidades de tratamento de proximidade com resultados conhecidos. O IDT procederá ainda ao encerramento de unidades de atendimento ao nível concelhio em vários locais do país levando os especialistas a referir as consequências negativas de tal decisão.
Existem áreas de problemas que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são claramente sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta em tempo oportuno. A toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos dessas áreas.
Quadros de dependência não tratados desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência. Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico, reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Os consumos, de diferentes substâncias, designadamente por parte dos adolescentes e jovens podem relacionar-se com alguma negligência paternal mas, na maioria dos casos, trata-se de pais, que sabem o que se passa, “apenas fingem” não perceber, desejando que o tempo “cure” porque se sentem tremendamente assustados, sem saber muito bem o que fazer e como lidar com a questão. De fora parece fácil produzir discursos sobre soluções, mas para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas vezes sentida como maior que eles, justificando-se a criação de programas destinados a pais e aos adolescentes que minimizem o risco do consumo excessivo.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é caro, façam as contas aos resultados do descuidar.

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