No mundo dos miúdos e dos graúdos e das relações
que estabelecem entre si, acontecem situações que, por vezes, me parecem
inexplicáveis. Na tentativa de encontrar junto de vós ajuda para entender tais
situações, apresento-vos uma delas.
Quando em nossas casas, nos contextos familiares,
os miúdos pequenos mostram e fazem as suas tentativas de se desenvolverem, por
exemplo, quando estão a aprender a andar ou falar, observam-se alguns tropeções
e embaraços com os sons e as palavras. De uma forma geral, os adultos por perto
brincam, ajudam na correcção e riem-se com estes incidentes, os miúdos também,
e, tranquilamente, continuam a tentar fazer melhor o que, obviamente, acabam
por conseguir. Tudo bem.
Uns tempinhos mais tarde, os miúdos vão para a
escola e começam a aprender as coisas que a escola tem guardadas para lhes
ensinar, por exemplo, a ler e a escrever. Como é de prever, as tentativas dos
miúdos para ler e escrever não resultam logo, verificam-se alguns enganos e
tropeções. É aqui que justamente surge o mistério.
É que, contrariamente à situação anterior, muitos
dos adultos da escola não brincam e não riem com os miúdos a propósito destes
enganos e tropeções. Põem um ar muito sério e sublinham “está errado”. Existem
miúdos que se assustam quando, repetidamente, lhes dizem de cara séria,
“erraste”. Devagarinho, deixam de querer experimentar fazer, não querem correr
o risco de “errar”. Não experimentando, não vão aprender, passam a preguiçosos
e desmotivados. Alguns até acedem ao estatuto de alunos com dificuldades.
Têm alguma explicação que me ajude a entender
esta diferença de atitudes?
Ainda a semana passada falava deste assunto com futuras professoras (em formação de mestrado). O exemplo foi precisamente o mesmo, o que admitimos quando uma criança está a aprender a andar, e o que não se admite na caminhada escolástica. Explicação, professor?! Falta de tempo, de sensibilidade; achar-se que em três meses passaram de crianças a adultos; esquecerem-se de que foram crianças e por isso perderem o tino ao ritmo e ao tempo; e também, muita falta de humildade para admitir que o erro possa ter sido feito por quem ensinou. Por fim achar-se que a aprendizagem escolar é um processo somente externo, por isso não se perdoa.
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