AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O FUTURO NÃO MORA AQUI

O Secretário de Estado das Comunidades afirmou hoje que nos últimos dois anos terão emigrado cerca de 200 000 portugueses estimando que em 2013 os números sejam da mesma ordem de grandeza. Estes dados, já referidos, contrariam informação do INE, segundo a qual em 2011 seriam 44 000 mil os portugueses que emigraram.
Apesar de já aqui ter escrito sobre esta questão, julgo que se justificam umas notas.
A par da Irlanda, somos o país de onde sai gente com maior qualificação o que exige ainda maior reflexão pelas consequências previsíveis.
Somos um país de emigrantes de há séculos pelo que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar. No entanto, creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a emigração realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer coisa.
Este vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem está começar, se sente qualificado e com o desejo de construção de um projecto de vida viável e bem sucedido.
Alguns inquéritos junto de estudantes universitários mostram como muitos, a maioria, admite emigrar em busca de melhores condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos afirmarem que pretendem voltar.
Lembramo-nos ainda da intervenções de incentivo à emigração qualificada, vergonhosamente negadas há dias, por Passos Coelho e do Ministro Miguel Relvas, que certamente não precisaria de emigrar, tem o seu futuro garantido dentro de portas por efeitos do alpinismo partidário, ao afirmar, dirigindo-se a jovens qualificados, "ide procurar fora de portas o vosso futuro”.
Parece-me relativamente claro que a questão central nesta matéria não é o movimento que desde há muito os portugueses realizam de procurar trabalho fora do país, trata-se também da construção de um projecto de vida auto-determinado. Sabemos, aliás, que é desejável em diferentes perspectivas, que estes fluxos se realizem.
O que me parece fortemente significativo é o que representa de descrença de tanta gente, de que seja possível desenvolver um projecto de vida viável e com potencial de realização pessoal e profissional no nosso país.
Nesto contexto, como tenho referido, as declarações dos responsáveis políticos assumem particular importância. Não podem assumir que a solução para os problemas das pessoas, por exemplo o desemprego, é abandonar o país, particularmente um país, Portugal, com sérias necessidades de mão-de-obra qualificada, um dos mais baixos níveis de qualificação da Europa e um dos grandes obstáculos ao nosso desenvolvimento, não pode acenar com a “sugestão” de emigração exactamente para a franja mais qualificada da nossa população. Trata-se uma visão absolutamente inaceitável.
Muita desta gente parte com amargura de uma terra, a sua, onde sentem que não cabem e o futuro … é um sonho impossível.

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