AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

NOVOS PRODUTOS, NOVOS ESQUEMAS, NOVOS PROBLEMAS

Desde Camões que sabemos que o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades, umas mais simpáticas que outras, deve dizer-se.
Num relatório hoje divulgado da responsabilidade da Europol e do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência, Mercados de Drogas na UE – Análise Estratégica , referem-se mudanças significativas na produção, compra e venda de drogas ilícitas por recurso às novas tecnologias.
Nesta matéria, recordo um relatório de Novembro de 2012, também do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência que referia o aparecimento em 2011 de 49 novas drogas que são basicamente comercializadas através das smartshops, ao abrigo do modelo “alternativas lícitas às drogas ilícitas” assente em algumas ambiguidades legais. O mesmo relatório afirma que em 2012 já estão identificadas 50 novas drogas. Como é conhecido, espera-se legislação sobre esta actividade que leva a incidentes de saúde severos como aconteceu há dias em Beja.
Por outro lado, é ainda de salientar a tendência crescente, como o relatório agora conhecido evidencia, da utilização da net e das redes sociais como suporte à venda de drogas ou medicamentos. Nada de surpreendente, poderíamos mesmo dizer, sinais dos tempos. Se as redes sociais podem assumir papéis significativos em movimentos sociais e políticos, porque não no tráfico de droga, uma das mais lucrativas actividades dos nossos dias.
Este cenário, não só pelas suas consequências, mas pela “facilidade” de funcionamento e da dificuldade do combate, necessita de uma política séria de prevenção e tratamento para além do combate ao tráfico que possa, tanto quanto possível, contar com os recursos adequados.
A questão preocupante e que tem sido motivo regular de alerta por parte de especialistas, é que os cortes e ajustamentos nos recursos humanos e materiais disponíveis possam criar sérios constrangimentos na prevenção e combate do consumo e ao tráfico.
Como muitas vezes tenho escrito, existem áreas de problemas que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são claramente sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta em tempo oportuno. A toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos dessas áreas.
Quadros de dependência não tratados desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência. Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico, reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é caro, façam as contas aos resultados do descuidar.

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