Não quero julgar intenções nem ferir
susceptibilidades, mas confesso que fiquei embaraçado.
Pelo menos em dois jornais televisivos de dias
seguidos, a RTP passou um trabalho sobre o início da distribuição de jantar a
cerca de 600 famílias do Concelho de Elvas.
À porta da escola, na altura em que todos os pais
vêm buscar os seus filhos, alguém fazia a chamada dos meninos pobres que levavam
uma lancheira com o jantar para casa, arroz bonito e hambúrgueres.
Na reportagem foram ouvidos funcionários da
instituição que confecciona o jantar, o Presidente da Câmara e alguns dos
beneficiários que, naturalmente, se mostravam agradados com a ajuda.
Uma senhora "pobrezinha" afirmou que
não sente vergonha por pedir, pois "vergonha é deixar os filhos com
fome".
Esta situação constitui um bom retrato das
mudanças que já se começam a sentir em Portugal e que mostram como estamos no bom
caminho que nos mandam percorrer, o da pobreza e da privação.
Não posso, obviamente, deixar de ser sensível e
apoiar as iniciativas que visem minorar as enormes dificuldades de muitíssimas
famílias e de muitos milhares de crianças que passam mal em aspectos tão básicos
como a alimentação e percebo como a autarquia se sentiu obrigada a providenciar
ajuda aos seus munícipes.
Também entendo que as dificuldades das pessoas
não devem ficar ignorada numa espécie de "semiclandestinidade" e não
serem objecto de tratamento noticioso. Acho mesmo que existe a responsabilidade
ética de o fazer.
No entanto, tenho grande dificuldade em entender
a forma como a iniciativa foi conduzida, com uma exposição muito agressiva das
pessoas envolvidas, a chamada pelo nome à porta da escola, quando todos os pais
vêm buscar os miúdos, a presença das autoridades, estamos em ano de eleições
autárquicas e a presença da comunicação social e a forma também intrusiva e como
mostraram e interpelaram as pessoas.
Não pode, não deve, ser assim. Um pouco de pudor
e dignidade evitariam um espectáculo de mediatização da pobreza que me
incomodou.
Deve ser um problema de hipersensibilidade a
merecer tratamento, discreto.
Subscrevo totalmente. Aliás, pensei a mesmíssima coisa quando vi a reportagem. E acrescento mais: deve ser muito interessante uma família de quatro pessoas, dois adultos e duas crianças, levarem para casa o jantar das crianças/alunos e os pais ficarem sentados à mesa a vê-los comer.
ResponderEliminarQuando a dádiva é apenas e só solidária e generosa, não tem este aparato mediático.
Professor, numa cidade conhecida como rondónia, por apropriação do nome do presidente da câmara, senhor que a tem puluido com o nome por tudo quanto é rotunda e edificio, não é de admirar que se permita á realização de tão "dignificante" espectáculo.
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