Se estão recordados, durante a passada semana
alguma imprensa referiu a possibilidade de ser aumentada a carga lectiva dos
docentes portugueses, informação que não foi desmentida por Nuno Crato.
O Expresso retomou a questão e com base no Relatório
da OCDE Education at a Glance 2012, que várias vezes aqui tenho citado, refere
que, considerando o número de horas em sala de aula por ano, a chamada
componente lectiva, os professores portugueses trabalham mais horas que a média
da OCDE e da UE (considerando apenas os 21 países). Esta situação verifica-se
em todos os níveis de ensino. Por curiosidade, entre o 5º e o 12º apenas na
Escócia os professores estão mais tempo na sala de aula.
Por outro lado, considerando todo o trabalho dos
professores, incluindo aulas, correcção das avaliações, preparação de aula,
acompanhamento de alunos, etc., os professores portugueses têem um volume de
horas anuais abaixo da média, quer da OCDE, quer da UE a 21 países, sendo de
referir que a maioria dos países tem horários base semanais de 40 horas e não
as 35 actuais em Portugal. Deve, no entanto, afirmar-se que, como muito bem sabe
quem por este universo circula, que os professores, na sua grande maioria,
investem no seu trabalho muitas horas não contabilizadas.
Como é habitual de há muito, os circunstanciais ocupantes
da 5 de Outubro fazem uma leitura selectiva dos dados de estudos e relatórios
internacionais, ou seja, tudo parece muito interessante e positivo quando serve
a sua agenda ou desvaloriza-se e questiona-se quando não vai ao encontro da
agenda, veja-se, por exemplo, a forma como o MEC comentou os progressos dos
alunos portugueses nos estudos internacionais recentemente conhecidos.
Parece evidente que em Portugal a questão de mais
tempo lectivo para os professores só se entende numa perspectiva de política
contabilística em que se transformou a política educativa. Na verdade, o
aumento da componente lectiva tornaria dispensáveis uns milhares de docentes
com a consequente redução de custos mas com prováveis custos severos em termos
de qualidade.
Julgo que seria bem mais relevante apostar em mudanças
na organização e funcionamento das escolas, com um acréscimo de autonomia e simplificação
de processos que o insustentável caminho dos mega-agrupamentos não facilita, na
desburocratização do trabalho dos professores, numa verdadeira reforma
curricular que, no seu conjunto, optimizasse a componente não lectiva, designadamente
a preparação e planificação de aulas e o acompanhamento e apoio a alunos.
Embora não seja este o espaço nem a forma
ajustada para um tratamento adequado da questão, acontece que a própria
comunicação social é "preguiçosa", por assim dizer, pois nem sempre,
como fez o Expresso, busca a informação relevante para os debates. Assim, com
alguma frequência aumenta-se o ruído e juízo de valor, intencional ou não,
sobre os professores e as suas problemáticas. Devo dizer que neste ruído e
ameaça à imagem dos docentes, incluo alguns discursos do MEC, bem como alguns
discursos dos representantes dos professores e de alguns opinadores
profissionais ignorantes mas com púlpito garantido, a que se junta uma imprensa nem sempre preparada
e também com agendas que nem sempre são claras.
Vamos aguardar os próximos desenvolvimentos nesta
metodologia clássica, um informação ainda difusa que se solta para avaliar
reacções e depois uma decisão designada por consensual.
Os professores portugueses, com o cenário actual
de alunos por turma e dimensão das escolas e agrupamentos, não precisam de
trabalhar mais na sala de aula, poderão precisar de trabalhar melhor, sobretudo,
fora da sala de aula no sentido de, por exemplo optimizar os apoios e
acompanhamento dos alunos.
Mas isto carece de políticas educativas e não de
políticas contabilísticas que sairão caras.
Excelente post, se me permite.
ResponderEliminarCumprimentos.
Paulo Prudêncio.
Obrigado Paulo
ResponderEliminarComentário quase azul mas com seta vermelha no conteúdo.
ResponderEliminarBOM
Álvaro
Caro Álvaro, lamento mas não percebi
ResponderEliminarSe o meu tempo de trabalho aumenta..., muito bem, façam primeiro contas claras:- o trabalho com alunos CONTINUA A NÃO SER TODO CONTABILIZADO NA COMPONENTE LETIVA.
ResponderEliminarexijo que contem TODO o trabalho que tenho com eles directamente. ponto.
As salas , clubes, substituições, apoios, tutorias e afins-TUDO.
o resto que seja não letivo .
o meu horário tem 27 tempos e não 22 como diz a minha folha de vencimento. e ainda tenho sala multidisciplinar, cidadania e sala de estudo. brincamos?
"Data" ( à maneira de Eustache Deschamps. poema de Sophia Mello Breyner Andersen.
ResponderEliminar"Data"(à maneira de Eustache deschamps) poema de Sophia Mello Breyner andersen
ResponderEliminar"Data" (à maneira de Eustache deschamps) poema de Sophia Mello Breyner andersen
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