AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

E A SAÚDE? NÃO VAI NADA BEM, MUITO OBRIGADO

Diferentes títulos da comunicação social chamam hoje a atenção para a situação extremamente grave que se vive no universo da saúde, com cerca de 21 hospitais em falência técnica, medicamentos para doenças crónicas não disponibilizados nas farmácias hospitalares, adiamento de cirurgias, atrasos excessivas nas listas de espera, não pagamento por parte do estado de consultas realizadas, por exemplo no IPO do Porto, etc. Acresce que este tipo de relatos é demasiado frequente para não levantar uma enorme preocupação.
No entanto, por mais que nos incomode e preocupe, creio que não consegue surpreender-nos. A área da saúde foi identificada como uma das que mais cortes no orçamento para 2012. Estes cortes têm atingido diferentes áreas da prestação dos cuidados de saúde e certamente assim continuará para 2013 como repetidamente tem sido anunciado pelo Governo que identifica a saúde, tal como educação e segurança social como as áreas a "privilegiar" para os cortes dos "mágicos" 4 000 milhões de euros.
A preocupação com a doença, sobretudo numa população envelhecida, está permanentemente na cabeça das pessoas e, naturalmente, não estou a falar de hipocondria. Se a este peso acrescer o facto de que não terem um médico de família acessível, que conheçam, que as conheça e com quem, desejavelmente, mantêm uma relação de confiança as pessoas sentem-se fortemente vulneráveis e impotentes. Acresce que muitas destas pessoas não terão grandes possibilidades de recurso a serviços privados.
Ainda não há muito tempo o Director da Escola Nacional de Saúde Pública referia o risco de se verificarem situações de ausência de consulta ou tratamento por falta de condições financeiras, quer no que respeita aos serviços, quer por dificuldades das próprias pessoas. A realidade que vamos conhecendo ilustra isso mesmo, de forma dramática.
Em segundo lugar, quando tanto se fala no estado social, nos limites desse estado, a privatização de serviços, por exemplo na saúde, é fundamental perceber e entender que a comunidade tem sempre a responsabilidade ética de garantir a acessibilidade de toda a gente aos cuidados básicos de saúde. Os tempos que atravessamos criando obstáculos ao acesso aos serviços de saúde são ameaçadores. Também vários especialistas em saúde pública alertaram para a relação entre as circunstâncias difíceis que atravessamos e o aumento atípico de óbitos nas últimas semanas atingindo sobretudo idosos e não explicados unicamente pelos factores habituais.
Como afirma Michael Marmot, que há meses esteve em Portugal, todas as políticas podem, ou devem, ser avaliadas pelos seus impactos na saúde.
Talvez a ideia do "custe o que custar" seja de repensar, pela nossa saúde.

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