AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

CARO PEDRO,

Peço desde já desculpa pela familiaridade abusiva do trato. Dado que não o tenho na roda dos meus amigos no Facebook e a minha utilização da rede é breve, apenas agora tomei conhecimento da mensagem que deixou na rede dirigida aos seus amigos sobre o Natal.
O senhor começa por afirmar que este não foi o Natal que merecíamos e refere dificuldades e sacrifícios que muitas pessoas fizeram nestes dias, na linha, aliás, do que têm vindo a fazer.
Concordo com a sua ideia, este não foi o Natal que muita gente merecia. Recordo centenas de milhares de pessoas que nunca viveram acima das suas possibilidades, que nunca tiveram responsabilidades de gestão da coisa pública, que sempre trabalharam e viveram do seu trabalho e que o perderam. E mais, perderam a dignidade. Como não mereciam as crianças que como o Pedro diz, não tiveram presentes, mas que garante, irão ter futuros. Desejamos que sim. Algumas destas crianças também não mereciam chegar à escola com fome, situação.que lhes rouba o presente e lhes ameaça o futuro.
Não se zangue Pedro, este é, também, o país que temos. Sabemos todos, o senhor também, que herdou uma situação muito grave com as contas do país completamente desequilibradas e numa conjuntura internacional altamente desfavorável. Devo, no entanto dizer que começa a ser o tempo de assumir que os dias em Portugal são os que o senhor tem vindo a fazer acontecer. E assim sendo, este Natal foi o Natal que o senhor fez acontecer, o Natal mais frio de que me lembro.
O senhor, para além das medidas de ajustamento (termo fino este) a que a Troika obrigou no excelente negócio que realizou connosco, tem vindo a tomar um conjunto de medidas que justamente produzem os sacrifícios pesadíssimos para as famílias que reconhece na sua mensagem.
Mais uma vez, este caminho, é o caminho decidido por si e por aqueles a quem segue fielmente. Como certamente saberá, muita gente, incluindo seus companheiros partidários e entidades internacionais, sustenta que existem alternativas, que este não é o único caminho como o senhor defende e no qual insensível e insensatamente continua a persistir.
O caminho que o senhor tem escolhido, repito tem escolhido, não promove equidade, os indicadores disponíveis nacionais e internacionais comprovam-no.
A maioria das pessoas não entende como as suas políticas, escolhidas por si, insisto, que deveriam, o senhor afirmou-o, servir para atenuar o desemprego e promover crescimento, antes pelo contrário, repercutem-se negativamente no consumo e aumentam a recessão e, portanto, o desemprego.
O senhor esforça-se por nos passar confiança e optimismo e promessas de “amanhãs que cantam” para utilizar uma expressão conhecida. Já o fez em campanha eleitoral, já o fez em 2011, já se enganou, ou o enganaram, demasiadas vezes para que acreditemos.
Compreendo que os seus amigos, não aqueles que assim trata na mensagem do Facebook, mas aqueles, poucos, a quem, na verdade as medidas de que o senhor é responsável, insisto, é responsável, servem, entendam muito bem e aceitem os sacrifícios que senhor impõe, mas não é para eles que o senhor deveria governar.
Na verdade, Pedro, sou pai, vou ser avô, queria e preciso, precisamos todos, de acreditar que melhores Natais estarão para vir.
Lamentavelmente, o senhor, meu caro Pedro, não me ajuda a acreditar. 

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