AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

UM DIA FELIZ

De manhã, quando saiu de casa sentia-se a pessoa mais bem disposta e feliz do mundo, ia ao banco tratar de liquidar o crédito contratado para adquirir o andar. Era um alívio com a crise que por aí anda.
Já no banco, ao proceder ao acerto de contas percebeu que ainda podia pagar o que faltava do empréstimo para a compra do carro. Ainda mais feliz ficou. Sem estar a pagar a casa e o carro, o orçamento que andava no limite ficava um pouco mais folgado.
À saída já imaginava que, finalmente, poderia ir com a mulher e o filho fazer aquelas férias no Brasil com que sempre sonhou. Pensou também que quando chegasse a casa ainda veria com a mulher se não era possível comprar uma televisão grande, um plasma, igual ao do cunhado, que é muito bom para ver os filmes e os jogos de futebol.
Tudo nesse dia estava a correr bem como há muito não acontecia.
Vinha a entrar em casa e já imaginava os olhos contentes do gaiato, quando lhe dissesse que agora pelo Natal talvez pudessem comprar um computador novo, porque o outro parece que está muito lento. Vinha no elevador e assobiava de contente.
Era o dia mais perfeito dos últimos anos, quase tão perfeito como o do seu casamento. Enquanto abria a porta a felicidade deu-lhe para dançar, até parecia que ouvia música. No meio do balanço do corpo começou a sentir algo de estranho.
A sua mulher, deitada ao lado na cama, olhava-o com ar esquisito enquanto o abanava, “Acorda, pára de te mexeres, o despertador já tocou, olha que te atrasas para a fila do Centro de Emprego”.

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