AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 14 de outubro de 2012

VOU AVALIAR O SETÔR

No Público de hoje surge um estimulante trabalho sobre um projecto desenvolvido nos Estados Unidos em que os alunos são chamados a avaliar os seus professores. De acordo com os autores, os resultados dessa avaliação são surpreendentemente consistentes entre si e com a literatura sobre boas práticas educativas, incluindo nessa consistência a diferença entre os alunos.
Algumas notas sobre esta questão.
Em primeiro lugar relembrar que a avaliação dos professores por parte dos alunos não é algo de novo. No ensino superior, também em Portugal, muitas instituições têm dispositivos de avaliação dos professores e das unidades curriculares de que são responsáveis por parte dos alunos. O envolvimento de alunos mais novos na avaliação dos professores, aliás, realizada por alguns professores informalmente sobre o seu próprio trabalho é, de facto, menos frequente.
Parece-me importante registar que existe uma extensa literatura sobre o que são práticas docentes com qualidade nas várias dimensões que o trabalho de professor envolve. Em Portugal, como noutros países existe muita investigação sobre como “representam” os alunos o professor “ideal”, ou seja o que entendem por um “bom professor”. Estes trabalhos realizados com alunos de diferentes idades e características, bons alunos e “maus” alunos, alunos disciplinados e “indisciplinados”, mostram com muita clareza uma consistência na definição do que são as qualidades dos bons professores na perspectiva dos alunos, de todos os alunos. Dito de outra maneira, os alunos “sabem” o que é um bom professor, o espaço não permite aprofundar a forma como eles elaboram estes discursos.
A questão central é o efeito, o impacto, desta “avaliação”. A avaliação dos professores é quase sempre objecto de múltiplas discussões sobre a sua forma e impacto, por exemplo na progressão da carreira, para além de, como também é frequente entre nós, ser contaminada por agendas exteriores à educação e por visões excessivamente corporativas.
Neste contexto, creio que estamos longe de admitir com serenidade o envolvimento formal dos alunos na avaliação dos seus professores, mas também é verdade que muitos professores o fazem de forma informal e com excelentes resultados, que os alunos “sabem” o que são bons professores e que desde muito pequenos os miúdos são genericamente capazes de produzir discursos críticos e válidos sobre o que os rodeia.
Se qualquer de nós realizar uma maior ou menor, depende da idade, viagem à meninice e adolescência, recuperar os professores de que guarda uma memória positiva e pensar porquê eles assim permanecem, conclui com facilidade que eles foram os nossos “bons professores”.
Os miúdos sabem, um dia talvez o possam dizer.

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