AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

CASA ONDE NÃO HÁ PÃO (ÉTICA), TODOS RALHAM E NINGUÉM TEM RAZÃO

A espuma dos dias e a situação que atravessamos enviesam o olhar que deitamos sobre o que nos rodeia.
Serve esta introdução para uma pequena nota sobre o alarido levantado pela substituição dos carros ao serviço do grupo parlamentar do PS. Os carros adquiridos, independentemente da forma de aquisição, têm um valor que em termos reais e no âmbito da despesa pública é, desculpem o atrevimento, irrelevante. Para utilizar uma expressão utilizada por Passos Coelho sobre um outro tema, este é um não assunto.
O que me leva a estas notas, elas também irrelevantes, tem a ver com os discursos produzidos sobre a questão.
Alguns atacam a situação como exemplo de despesismo e mordomias inaceitáveis a que "eles", "os gajos" "que não fazem nada" mantêm, enquanto "nós" somos vítimas de toda a espécie de aperto e cortes.
Outros, por exemplo o líder parlamentar do PS, recordam que a democracia tem custos nos quais se inscreve, por exemplo, a aquisição dos carros que Carlos Zorrinho considera uma ferramenta indispensável ao trabalho dos deputados.
Qualquer deste tipo de discursos, de sinal contrário, assentam, do meu ponto de vista, numa espécie de demagogia e populismo que não servem a já degradada saúde da nossa democracia, sobretudo a sua saúde ética.
Por um lado, como é óbvio, a democracia tem custos, ainda há poucos dias o afirmei a propósito da discussão sobre a redução de deputados. No entanto, os custos da democracia, que devemos suportar, não têm que incluir a actualização da frota automóvel dos grupos parlamentares quando atravessamos um tempo de enormes dificuldades e restrições que solicitam prudência e parcimónia nos gastos sendo, no mínimo, desajustada, a gama de veículos escolhida. Vale a pena referir também que democracias bem mais "ricas" que a nossa não colocam ao dispor dos seus deputados uma frota automóvel com as característica divulgadas e não consta que a qualidade dessas democracias se degrade por esse motivo.
Por outro lado, os discursos inflamados sobre as mordomias, ainda que se perceba, é, nas mais das vezes, produzido por muitos de nós que procuramos diariamente um "esquema" ou "jeitinho" que nos dê um qualquer benefício, enquanto bramimos contra o que os "gajos" fazem. É uma questão de cultura, de escala e de oportunidade.
Talvez estas notas, sejam, como disse, irrelevantes, mas este não assunto mostra o frágil estado de saúde da nossa democracia.  

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