AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A VIOLÊNCIA DAS PALAVRAS

O Primeiro-ministro acusou hoje o PCP de usar uma terminologia no debate político que será na sua opinião “cúmplice para não dizer instigador da violência”.
Já não é a primeira vez que Passos Coelho produz declarações que do meu ponto de vista correm o risco de ser incendiárias, ou seja contribuírem ainda que não intencionalmente para a criação de um clima de tensão e crispação emocional favorável a reacções mais extremadas.
Em primeiro lugar, devo dizer, para atenuar juízos apressados, que não tenho agenda partidária, não me orgulho desta condição, mas a partidocracia para aqui me levou. Dito isto e voltando às declarações de Passos Coelho elas são reveladoras da impreparação para as diferentes dimensões da função governativa.
A terminologia usada pelo PCP foi tão ou mais “simpática” que a utilizada por pessoas do PSD ou do CDS no adjectivar das políticas do Governo, citando por exemplo, Marques Mendes ou Bagão Félix. Por outro lado, quer as autoridades policiais, quer as forças políticas de vários quadrantes reconhecem a capacidade que o PCP tem demonstrado de controlo de incidentes e episódios de violência nas manifestações por si organizadas.
É público que o receio de violência na rua tem mais origem em grupos restritos de natureza radical que das forças políticas ou de natureza política e profissional, partidos e sindicatos.
Por outro lado, da parte do Governo, muitas das políticas e muitas declarações de pessoas do Governo ou a ele ligadas são, elas sim, de uma violência extrema e tal é reconhecido quando, por exemplo Passos Coelho, Vítor Gaspar ou Cavaco Silva elogiam fora de portas o comportamento e a capacidade de sacrifício dos portugueses por oposição ao que se assiste na Grécia ou em Espanha.
Não me parece necessário grande conhecimento de sociologia ou de psicologia para perceber que declarações desta natureza podem constituir um exercício muito arriscado e de consequências imprevisíveis.
Como já aqui tenho escrito as lideranças com qualidade e preparadas não são infalíveis, não têm capacidades mágicas que lhes permitam a resolução fácil e imediata de qualquer problema, são humanas com tudo o que isso implica. Mas não podem falhar em aspectos como este, produzindo declarações insustentáveis e incendiárias. É por isso que nem todas as pessoas podem desempenhar os cargos a que se propõem.

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