Num dia marcado pelo conhecimento
da enésima versão do Orçamento Geral do Estado para 2013, existe um outro facto
que julgo importante em si mesmo e pelo que pode também representar como exemplo,
o acordo entre o Ministério da Saúde e os representantes dos médicos. Bom, já
me esquecia que vão surgindo mais umas notícias sobre o relvismo, mas este é
certamente um não assunto como, aliás, Relvas é não qualquer coisa de substantivo
e uma personagem que insulta as pessoas de bem ao continuar nas funções que
desempenha.
Não conheço os pormenores deste
entendimento, mas do que a imprensa refere, o SNS, a nossa saúde, sai beneficiado
com este acordo, não vê agravada a sua sustentabilidade e os médicos terão
visto acautelados algumas das suas reivindicações. Um acordo é justamente um
entendimento em que as partes, todas as partes, após ajustamentos nas suas
pretensões de partida, chegam a um resultado que entendem positivo para todos.
Também neste processo ocorreu um longo período de negociações, envolveu uma
greve com grande adesão dos médicos e atingiu agora o seu final com o acordo ontem
assinado.
Na altura em que se vai entrar na
discussão no Parlamento do OGE, o acordo entre Ministério da Saúde e os médicos
poderia constituir alguma fonte de inspiração para o Governo no seu todo,
designadamente Vítor Gaspar, um tecnocrata desconhecedor do que é a vida real
das pessoas e que acredita que a realidade é um conjunto de modelos teóricos e
Passos Coelho, um homem manifestamente impreparado para a função, voluntarista,
à deriva e com uma relação mágica com os mercados, seja lá isso o que for.
Ninguém parece discutir a
necessidade de contenção e austeridade, foi evidente a aceitação manifestada
pelos portugueses dos primeiros "pacotes". No entanto, a insistência
num caminho de brutal de aumento dos cortes nos rendimentos, seja por via da
redução dos salários, seja pelo aumento criminoso dos impostos, ao arrepio de
sucessivas promessas, tem vindo a produzir uma vaga de contestação oriunda de
todas as camadas sociais, de todos os espectros políticos pelo que significa de
tragédia na vida da grande maioria das pessoas. Esta contestação aproxima-se
perigosamente dos limites do protesto pacífico, a revolta e a indignação criam
crispação e um clima emocional que é favorável ao extremar de discursos e
comportamentos.
Neste quadro, julgo que a
capacidade negociadora, de aproximação de posições, revelada no processo de
acordo entre o Ministério da Saúde e os representantes dos médicos, poderia ser
inspiradora para um Primeiro-ministro que apesar da sua cegueira política
saberá, muitas têm sido referidas, que existem alternativas menos gravosas para
as pessoas, que podem ser tentados os ajustamentos nos processos de relação com
os credores com posições de maior firmeza e solidez e que, portanto, o OGE não
terá que ser por fatalidade aquilo que ele e Vítor Gaspar entendem com base na sua
douta ignorância sobre a realidade. Talvez fosse altura de Passos Coelho
aprender o que significa, negociar, flexibilidade, alternativa, equidade, sacrifício,
etc., etc.
Como nos bons acordos, não
impostos, custe o que custar, todos sairiam a ganhar.
O acordo com os sindicatos dos médicos não desagrava as despesas (bem pelo contrário!), mas "impede" que os médicos recorram para a greve.
ResponderEliminarPor outro lado, a agregação de unidades de saúde continua a efectivar-se sem que os médicos se queixem. Já em relação à agregação de escolas não podemos dizer o mesmo dos sindicatos de professores.
Enfim, professores e médicos são grupos profissionais muito diferentes!
Olá Pedro, Mas creio que diminui o número de utentes sem médico de família, que minimiza listas de espera, que aumenta as horas de trabalho dos médicos. Como disse, os acordos negociados não são perfeitos e ideais para todos os envolvidos mas devem ser considerados positivos de algum modo para todos. Caso contrário, não é um acordo.
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