AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A NEGOCIAÇÃO

Num dia marcado pelo conhecimento da enésima versão do Orçamento Geral do Estado para 2013, existe um outro facto que julgo importante em si mesmo e pelo que pode também representar como exemplo, o acordo entre o Ministério da Saúde e os representantes dos médicos. Bom, já me esquecia que vão surgindo mais umas notícias sobre o relvismo, mas este é certamente um não assunto como, aliás, Relvas é não qualquer coisa de substantivo e uma personagem que insulta as pessoas de bem ao continuar nas funções que desempenha.
Não conheço os pormenores deste entendimento, mas do que a imprensa refere, o SNS, a nossa saúde, sai beneficiado com este acordo, não vê agravada a sua sustentabilidade e os médicos terão visto acautelados algumas das suas reivindicações. Um acordo é justamente um entendimento em que as partes, todas as partes, após ajustamentos nas suas pretensões de partida, chegam a um resultado que entendem positivo para todos. Também neste processo ocorreu um longo período de negociações, envolveu uma greve com grande adesão dos médicos e atingiu agora o seu final com o acordo ontem assinado.
Na altura em que se vai entrar na discussão no Parlamento do OGE, o acordo entre Ministério da Saúde e os médicos poderia constituir alguma fonte de inspiração para o Governo no seu todo, designadamente Vítor Gaspar, um tecnocrata desconhecedor do que é a vida real das pessoas e que acredita que a realidade é um conjunto de modelos teóricos e Passos Coelho, um homem manifestamente impreparado para a função, voluntarista, à deriva e com uma relação mágica com os mercados, seja lá isso o que for.
Ninguém parece discutir a necessidade de contenção e austeridade, foi evidente a aceitação manifestada pelos portugueses dos primeiros "pacotes". No entanto, a insistência num caminho de brutal de aumento dos cortes nos rendimentos, seja por via da redução dos salários, seja pelo aumento criminoso dos impostos, ao arrepio de sucessivas promessas, tem vindo a produzir uma vaga de contestação oriunda de todas as camadas sociais, de todos os espectros políticos pelo que significa de tragédia na vida da grande maioria das pessoas. Esta contestação aproxima-se perigosamente dos limites do protesto pacífico, a revolta e a indignação criam crispação e um clima emocional que é favorável ao extremar de discursos e comportamentos.
Neste quadro, julgo que a capacidade negociadora, de aproximação de posições, revelada no processo de acordo entre o Ministério da Saúde e os representantes dos médicos, poderia ser inspiradora para um Primeiro-ministro que apesar da sua cegueira política saberá, muitas têm sido referidas, que existem alternativas menos gravosas para as pessoas, que podem ser tentados os ajustamentos nos processos de relação com os credores com posições de maior firmeza e solidez e que, portanto, o OGE não terá que ser por fatalidade aquilo que ele e Vítor Gaspar entendem com base na sua douta ignorância sobre a realidade. Talvez fosse altura de Passos Coelho aprender o que significa, negociar, flexibilidade, alternativa, equidade, sacrifício, etc., etc.
Como nos bons acordos, não impostos, custe o que custar, todos sairiam a ganhar.

2 comentários:

  1. O acordo com os sindicatos dos médicos não desagrava as despesas (bem pelo contrário!), mas "impede" que os médicos recorram para a greve.
    Por outro lado, a agregação de unidades de saúde continua a efectivar-se sem que os médicos se queixem. Já em relação à agregação de escolas não podemos dizer o mesmo dos sindicatos de professores.
    Enfim, professores e médicos são grupos profissionais muito diferentes!

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  2. Olá Pedro, Mas creio que diminui o número de utentes sem médico de família, que minimiza listas de espera, que aumenta as horas de trabalho dos médicos. Como disse, os acordos negociados não são perfeitos e ideais para todos os envolvidos mas devem ser considerados positivos de algum modo para todos. Caso contrário, não é um acordo.

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