À medida que desfila aos nossos olhos o país
político, o país social, o país económico, não consigo descrever com exactidão
que sentimento me passa pela cabeça, vergonha, tristeza, revolta, indignação,
indiferença resignada, etc. Provavelmente um pouco de tudo isto. Já não nos
conseguimos surpreender com o que todos os dias nos interpela.
Do meu ponto de vista, já o tenho referido, a
partidocracia que se instalou em Portugal levando a que os partidos, através
dos respectivos aparelhos e consoante o calendário tomassem conta do país,
minou dramaticamente a estrutura ética de uma democracia que estava ainda em
maturação. A agenda dos partidos e os respectivos interesses, institucionais ou
pessoais, sobrepõem-se despudoradamente ao bem comum.
Tal cenário não parece facilmente modificável
pois, obviamente, os partidos capturaram o quadro normativo que regula a
actividade política e, por isso, sendo parte do problema dificilmente serão
parte da solução. Veja-se por exemplo a permanente e consistente falta de
vontade política de promover o combate à corrupção. Finalmente, ao fim de muita
deriva e retórica, conseguiu-se algo no sentido de criminalizar o
enriquecimento ilícito.
No entanto, o relatório da Procuradoria-geral da
República, hoje conhecido, revela que o Gabinete do Ministério Público existente no Tribunal
Constitucional que deveria proceder à fiscalização dos rendimentos dos titulares
dos cargos políticos ou equiparados não tem meios suficientes para o
cumprimento das suas funções e competências.
São inúmeras as situações conhecidas na sociedade
portuguesa com personagens de diferentes quadrantes políticos envolvidos
em esquemas e negócios que, nas mais das vezes e mesmo quando levados à justiça,
acabam em coisa nenhuma alimentando a devastadora ideia da impunidade e de que
o crime compensa e de que, quanto maior mais fácil se torna escapar.
Oiço os politólogos, espécie em proliferação e já
quase praga que se juntou aos tudólogos, a perorar sobre o mal-estar da
democracia de vários ângulos e com análises sempre muito interessantes mas quase
sempre, do meu ponto de vista, ao lado, como se costuma dizer. Seria necessário
um movimento forte da sociedade não alinhada nos aparelhos partidários a exigir
mudanças e compromissos éticos às lideranças. É necessário uma militância
activa no combate aos vícios da partidocracia, denunciando, exigindo
responsabilidades. A imprensa teria aqui um papel fundamental, se parte dela
não tivesse, ela também, um compromisso mais ou menos evidente com as agendas
partidárias.
Quando penso que tudo isto já bateu no fundo,
surge algo ainda pior. Quando começarão as faces a ser desocultadas?
Só a imprensa poderia dar visibilidade aos movimentos cívicos não alinhados com partidos.
ResponderEliminarMAS a imprensa é deliberadamente inconsequente.
MAS a imprensa presta vassalagem ao poder político e financeiro vigente.
POR ISSO a imprensa faz parte do problema (salvo raríssimas excepções).
saudações