AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

DE BICICLETA

Uma docente universitária da Universidade do Minho propôs que em vez de descontos nos passes para transporte público, fossem oferecidas às crianças e a jovens bicicletas para uso  na deslocação para a escola. A sua argumentação radica nas experiências de outros países incluindo os que tem climas mais adversos, na economia e, naturalmente, nos benefícios para a saúde considerando que, até por decisão do MEC, os alunos portugueses têm menos tempo de actividade física na escola que o recomendado pela OMS.
A proposta levantou algumas reservas sobretudo no que respeita à segurança rodoviária e nas diferenças culturais e sociais que potenciariam riscos de acidentes e incidentes.
Pessoalmente acho que por princípio devem ser incentivados comportamentos mais saudáveis e com menor custo ambiental mas parece-me, por várias razões, uma ideia de difícil generalização, embora todos saibamos o quanto se torna necessário pedalar para aceder a um projecto de vida viável e positivo.
No entanto, a notícia fez-me recordar com imensa ternura e nostalgia a minha bicicleta de adolescente, há muitos anos atrás.
Tive a sorte de ter uma bicicleta desde gaiato pequeno, oferta de tios generosos, por isso sempre me habituei a bicicletas até porque foi o veículo de transporte familiar até à adolescência, altura em que o orçamento lá de casa possibilitou a aquisição de uma motorizada para a família e na qual todos nos revíamos embevecidos, continuávamos em duas rodas é certo, mas sempre tinha motor.
Já mais crescido, a economia familiar tinha limites apertados e não chegava para uma bicicleta nova de roda 28 pelo que desenvolvi um empreendedor plano. Recolhia cobre de fios velhos de instalações eléctricas e latão, sobretudo dos casquilhos das lâmpadas, que trocava no ferro-velho do Gato Bravo por peças para a minha bicicleta. O quadro, as rodas, selim, o guiador, os travões, o dispositivo de iluminação com o dínamo na roda e a minha bicicleta foi crescendo, linda, através do que se poderia designar por um modelo pioneiro de “assembling”, com a ajuda sabedora e companheira do meu pai, um conhecedor de bicicletas e, sobretudo, um especialista em gente miúda. Não vos posso dizer a cor da minha bicicleta porque teve várias, era uma bicicleta personalizada.
De vez em quando, conseguia outro guiador, outro selim e a minha amada e invejada bicicleta sofria um “restyling”, até mudanças ganhou. Grandes voltas percorremos nós, quase sempre com o Zé Padiola, íamos à Costa da Caparica e à Fonte da Telha, até voltar para casa, sempre por estradas que há quarenta anos ainda nos permitiam andar de bicicleta sem os riscos actuais.
É certo que eu e ela também testámos o chão, mas éramos solidários e amigos, quando eu caía, ela acompanhava-me sem um queixume ou ponta de revolta.
Divertimo-nos a sério. Que saudades da minha bicicleta.
Talvez a generalização do uso das bicicletas seja mesmo de considerar.

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