AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 9 de setembro de 2012

CARO PEDRO

Caro Pedro,

Dado que não o tenho na roda dos meus amigos no FaceBook e a minha utilização da rede é breve, apenas tomei conhecimento da mensagem que deixou na rede dirigida aos seus amigos, referindo-se ao discurso em que anunciou novas medidas de austeridade, através da imprensa. Estranhamente e sem que eu consiga perceber porquê, escreve como cidadão e pai.
Devo dizer-lhe que não tenho a menor das dúvidas que o Senhor não fez o discurso que gostava de fazer. Se na verdade gostasse de fazer este discurso, eu ficaria preocupado, evidentemente com os efeitos das medidas anunciadas, mas também com a sua saúde mental.
No entanto, não sendo o discurso que gostava de fazer, foi o discurso que o senhor quis fazer, repito, quis fazer.
Sabemos todos, o senhor também, que herdou uma situação muito grave com as contas do país completamente desequilibradas e numa conjuntura internacional altamente desfavorável. Devo, no entanto dizer que começa a ser o tempo de deixar de referir a herança porque os dias em Portugal são os que o Senhor tem vindo a fazer acontecer.
O Senhor, para além das medidas de ajustamento (termo fino este) a que a Troika obrigou no excelente negócio que realizou connosco, tem vindo a tomar um conjunto de medidas que justamente produzem os efeitos que o senhor vê com muito incómodo na mensagem do FB, desemprego, designadamente jovem e sacrifícios pesadíssimos para as famílias.
Mais uma vez, nas medidas anunciadas, o Senhor decide um caminho, não o único caminho, muita gente, inclusivamente do seu espectro político, defende alternativas.
O caminho que o senhor tem escolhido, repito tem escolhido, não promove equidade, mexe nos salários, retirando rendimento a todas as famílias, não taxa especialmente os níveis de salário e outros rendimentos muito elevados, baixa o custo do trabalho nas empresas à custa dos trabalhadores e continua por fazer muito do necessário em matéria e reforma do estado.
A maioria das pessoas não entende como é que as medidas que anunciou, insisto, por escolha sua, servem para atenuar desemprego e promover crescimento, antes pelo contrário, repercutem-se negativamente no consumo e aumentam a recessão e, portanto, o desemprego.
Tal como você, tenho orgulho nesta terra, sempre por cá vivi e já nem sequer tenho idade para equacionar de cá sair mas, devo confessar, o Senhor esforça-se para que mal me sinta com estes dias de chumbo que vamos vivendo.
Queria ainda expressar preocupação com o facto de o Senhor admitir que novos sacrifícios nos podem esperar. Conhecendo o que é o seu entendimento dos sacrifícios, uma quase inexistente classe média e os trabalhadores a suportarem o grosso dos sacrifícios, fico com medo.
Compreendo que os seus amigos, não aqueles que assim trata na mensagem do FB, mas aqueles, poucos, a quem, na verdade as medidas de que o Senhor é responsável, insisto, é responsável, entendam muito bem e aceitem os sacrifícios que senhor impõe, mas não é para eles que o Senhor deveria governar.
Também sou pai, um dia destes serei avô, e gostava de ser optimista e acreditar que vamos deixar um mundo melhor aos nossos miúdos.
Lamentavelmente, o Senhor não me ajuda a acreditar. 

1 comentário:

  1. Senhor Professor, sem a sua prévia autorização, que desde já lhe rogo que me perdoe, tomo a liberdade de acrescentar um POST-SCRIPTUM à sua carta.

    O dito:

    Caro Pedro, aos 14 anos (1978) aderiu à JSD e até 2001 sempre gravitou nos meandros da política.
    O senhor é tecnocrata da política; não entende e não defende outra coisa a não ser o seu partido e a malha social que o sustenta, ou seja, os muito abastados, os ricos, os muito ricos, os monopólios, especuladores e todos aqueles que fruto da exploração do povo, também enviam os seus milhões para paraísos fiscais fugindo assim aos impostos.
    Os restantes que ainda acreditam na sua governação em breve deixarão de o fazer, pois o senhor está a esforçar-se para que isso aconteça.
    Por muito que o senhor fuja ás perguntas mais pertinentes e ignore outras, a realidade é esta; O povo, o trabalhador por conta de outrem, principalmente os que auferem vencimentos mais baixos é que estão a pagar a crise que o senhor, seus pares e partidos do arco do poder, contribuíram de uma forma abissal.
    Uma coisa eu reconheço: o senhor conhece perfeitamente o povo que governa; sabe da sua passividade, o chamado brandos costumes que esta gente transporta no seu ADN. A essa passividade e brandos costumes deve o senhor a sua permanência como, ainda 1º Ministro.

    Sem mais
    desejo-lhe uma caduca presença pelo palácio de S. Bento


    saudações

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