AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 23 de setembro de 2012

A TERRA MOLHADA. Cumpriu-se a tradição, choveu na Feira d'Aires

Acho mais sinceros os dias de chuva. Nos dias que em chove ponho-me a pensar que não sou só eu que vivo arreliado. Depois, o cheiro da terra molhada é que me faz de novo animar.
(Almada Negreiros)
Já chove no Meu Alentejo. A terra gretada pela secura que parecia chorar lágrimas secas pela chegada da chuva, as lágrimas molhadas, já liberta o inconfundível cheiro de que falava Mestre Almada e que me deixa mais animado.
E cumpriu-se a tradição. Dizem os Velhos, como o Mestre Zé Marrafa, que quando não chove pela Feira de Ferreira do Alentejo que decorreu no fim-de-semana passado, chove com certeza pela Feira d'Aires, aqui no Meu Alentejo, que se realiza na semana seguinte, este fim-de-semana. E choveu bem.
Creio que já não vai complicar muito as vindimas e permite que as azeitonas, poucas este ano, fiquem mais gradas, estão pequenas da secura.
Esta chuva vai também lavar o pó e tudo fica mais bonito.
Vai começa a aparecer algum verde na terra, que ficando mais branda da água que a amolece já pode ser fabricada e daqui a poucas semanas podem iniciar-se as sementeiras. Virá rapidamente o tempo das favas, dos alhos ou dos cereais, por exemplo.
Por outro lado, creio que a secura não tem estado a afectar só a terra. Sinto que as pessoas também se sentem secas, já com pouco ou nada para dar, cansadas, ansiosas porque alguma coisa mude, às vezes nem sabendo exactamente o quê, que a desesperança mata o sonho. Creio que cada um de nós gostaria que mudassem coisas diferentes, mas que mudassem. Um problema sério é que também a confiança no futuro parece seca como a terra.
A terra vai ficar melhor, já chove no Meu Alentejo. E nós, as pessoas?

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