AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A MOCHILA DOS POBREZINHOS

A agenda de hoje permitiu-me assistir ao Jornal televisivo da RTP à hora de almoço. Nestes tempos que voam, apesar se serem de chumbo, é preciso estar informado.
Entretanto surge uma peça sobre a distribuição de material escolar às famílias carenciadas. Não estranhei a notícia, numa época em que tudo é mediatizado, porque não a pobreza.
Fiquei a saber que uma conhecida empresa detentora de uma cadeia de lojas com material de desporto, vestuário e afins entendeu por bem distribuir em 60 escolas 4 000 mochilas com material escolar aos pobrezinhos. É bonito, é solidário e deve ser a isto que chamam responsabilidade social.
Mas havia mais, aparece uma Senhora Secretária de Estado da Educação, Isabel Leite, que com ar de quem visita um campo de refugiados, falou da importância de encontrar na "sociedade civil", adoro a ideia da sociedade civil, um parceiro que colabora no atenuar das dificuldades das crianças contribuindo assim para o seu sucesso. Falou ainda o representante da empresa que, naturalmente, sublinhou o contributo da mochila para a vida dos pobrezinhos que, obviamente, carregam já uma mochila demasiado pesada, a sua própria vida.
Com as intervenções ia sendo mostrada a distribuição das mochilas numa escola em Carnaxide com, presumo, os carenciados a receberem das mãos dos representantes ministerial e da empresa a mochila de ajuda.
Numa evento, obviamente discreto, espontâneo e informal, a entrega da ajuda aos carenciados era realizada em frente a painéis publicitários num cenário bem produzido que publicitava, claro, o MEC e a empresa com responsabilidade social.
Não tenho, naturalmente, nada a opor, antes pelo contrário, à responsabilidade social das empresas e à sua genuína vontade de ajudar os pobrezinhos. Choca-me o envolvimento de uma Secretária de Estado da Educação de um Ministério que tem subscrito medidas que comprometem a qualidade da educação e limitam o acesso dos miúdos e famílias aos apoios sociais escolares, em "parceria" com a sociedade civil, a distribuir mochilas aos pobrezinhos.
Talvez a forma como a peça foi produzida e apresentada possa gerar equívocos mas creio que um pouco de pudor e dignidade evitariam um espectáculo de mediatização da pobreza que me incomodou.
Deve ser um problema de hipersensibilidade que a idade me vai causando e certamente está a merecer tratamento.

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