AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

UM OLÍMPICO DISPARATE


O Senhor Comandante Vicente Moura que agora parece estar mesmo de saída do Comité Olímpico, apesar de ser melhor esperar para confirmar, depois de ter afirmado que tínhamos nos Jogos Olímpicos de Londres a representação melhor preparada de sempre, na hora do balanço, entendeu por bem desfazer o País em matéria de desporto de base,  bater no poder político que olha para o desporto, que não o futebol profissional, como uma oportunidade de brilhar nas fotografias à boleia dos resultados dos aletas e que discretamente se defende quando as coisa correm mal, não assumindo a responsabilidade política que lhe cabe.
Entusiasmado com a sua própria prestação, reclama um retorno à Mocidade Portuguesa, sem a carga política evidentemente, como forma de relançar o desporto escolar algo de basicamente inexistente no nosso país.
Na verdade, acho que o Senhor Comandante Vicente Moura tem razão na ausência quase total de actividade desportiva nas nossas crianças e adolescentes. Recordo um trabalho há pouco divulgado na Lancet, referindo que em Portugal, entre os adolescentes, dos 13 aos 15, quatro em cada cinco não são fisicamente activos.
No entanto,  acho curioso, e só isso, que Vicente Moura presidente do Comité Olímpico Português desde, creio, 1997, só agora tenha manifestado este desagrado. Mais interessante ainda é a sua disparatada referência à Mocidade Portuguesa, apesar de lhe retirar a "carga política".
Talvez o Senhor Comandante não se lembre, ou não queira lembrar-se, mas a essência da Mocidade Portuguesa era exactamente a carga política, não a prática desportiva que, aliás, se pode aferir pelos resultados alcançados nas grandes competições pelos atletas, por exemplo, da minha geração que conhecemos a MP como era designada. As gerações mais recentes alcançaram obviamente melhores resultados pelo que a construção de uma elite desportiva e da massificação da prática não de corre da existência de uma Mocidade Portuguesa.
Como certamente o Senhor Comandante saberá, organizações do tipo da Mocidade Portuguesa só sobrevivem em países cuja vida democrática, social e cultural não pode constituir-se como exemplo do que quer que seja para gente em crescimento.
Como certamente o Senhor Comandante Vicente Moura saberá, a esmagadora maioria dos países com cultura e prática desportiva mais massificada e com resultados ao nível das elites em diferentes modalidades, não possuem estruturas do tipo Mocidade Portuguesa.
O Senhor Comandante certamente saberá que durante anos o parque escolar português era na sua maioria um deserto em matéria de espaços e equipamento desportivos e saberá de uma cultura desportiva assente fundamentalmente no futebol e assim alimentada.
O Senhor Comandante Vicente Moura certamente saberá de como o desporto dos mais novos tem sido garantido, sobretudo com o esforço de milhares de pequenos clubes no limiar da sobrevivência e de muitos milhares de voluntários que contribuem para que muitos miúdos, ainda assim, acedam à prática desportiva.
O Senhor Comandante Vicente Moura saberá certamente da desvalorização da Educação Física como área curricular  por parte do Ministério da Educação e Ciência e não lhe conheço, mas admito que exista, reacção forte a tal medida.
O Senhor Comandante Vicente Moura que tem sido parte do problema a que se refere, proferiu mais uma olímpica asneira, aliás, na senda várias outras pois é um atleta consistente e persistente.

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