A realização da tourada em Viana do Castelo, aceite pelo Tribunal contra a decisão da Câmara, e a abertura da época da "morte ao touro", reabrem o debate
sobre a realização das touradas, quer envolvam as excepções com a morte do
touro, como o caso de Barrancos, quer na versão mais soft em que o touro não é
morto, (na praça).
Poder-se-á, o que não é raro, dizer que existem
assuntos mais importantes a merecer discussão mas, do meu ponto de vista, vale
a pena insistir, sobretudo quando as matérias estão com tempo de antena e,
portanto, susceptíveis de envolver mais gente.
Como já tenho afirmado, lamento mas nem sequer me
parece discutível a existência das touradas, com ou sem morte dos touros na
arena.
Esta discussão é insustentável num plano
racional, o touro é objecto de um tratamento que causa mal-estar e sofrimento e
entender esta situação como um espectáculo é algo que me escapa. Por outro
lado, o argumento habitual de natureza económica e de preservação da espécie é,
do meu ponto de vista, curto, estas questões poderiam ser acauteladas sem a
realização de touradas como também já tem sido referido.
Na verdade, a defesa da tourada radica em
questões de natureza emocional, cultural, psicológica ou sociológica que
entendo mas que não tenho que subscrever, o que torna particularmente difícil
uma discussão racional e conclusiva.
No entanto, parece-me que a argumentação mais frequente,
a tradição e cultura que este "espectáculo", a "festa
brava" alimenta não colhe só por si. Como é óbvio, nada se deve manter só
porque é tradicional ou integrado na cultura, se tal representar um atentado a
direitos básicos. Posso, com uma ponta de demagogia evidentemente, evocar a
"tradição" e "cultura" que alimentaram os combates de
gladiadores, escravatura, a pena de morte, ou mesmo a violência doméstica e a
exploração infantil, que de tradição e cultura passaram a procedimentos
inaceitáveis ou mesmo criminalizados.
Sabemos que as mudanças em matéria de
"cultura" e "tradição" são difíceis, são lentas, mas ...
"e pur si muove". Também me parece que a mudança será mais fácil com
a emergência de gerações mais novas que crescem sem o peso da
"tradição" e da "cultura" que nós mais velhos carregamos e
que mais dificilmente alteramos.
Como em tudo, pela educação é que vamos, numa
variante à fórmula de Sebastião da Gama.
Caro Professor, recomendo-lhe uma leitura para o que resta das suas férias: "Um Verão Perigoso" de Ernest Hemingway.
ResponderEliminarAbraço
António Caroço