A imprensa dos últimos dias descobriu uma fórmula em uso em
algumas instituições de ensino superior, público e privado, no sentido de
captar estudantes em tempo de aperto. Usando a possibilidade legal e um bom
princípio a que já volto, aceitam estudantes que sob o estatuto de “alunos
externos" e não cumprindo os requisitos de entrada no superior se matriculam em
unidades curriculares que, tendo avaliação, verão futuramente creditadas por
equivalência no curso.
Em primeiro lugar, devo dizer que estou ligado
profissionalmente a uma instituição de ensino superior privado, creio que a
mais antiga do país, com 50 anos, o que de alguma forma me envolve nesta
questão, mas que, por outro lado, me permite falar com algum conhecimento.
O princípio, como dizia, tal como o “esquema” usado por
Relvas, parece-me correcto e existe na generalidade dos países europeus.
Permite a alguém adquirir conhecimentos de uma determinada área, frequentando
uma ou várias disciplinas de cursos superiores, o que me parece meritório, mas
a ideia não é CUMPRIR um curso completo, uma formação global desta forma. Neste
cenário, entra a portuguesice, ou seja, existe uma situação que é legal e que
habilidosamente gerida permite atingir objectivos para as quais não foi
pensada.
No caso conhecido através do Ministro Relvas, o princípio,
correcto, reafirmo é reconhecer na academia competências que VERDADEIRAMENTE
foram adquiridas através de experiência profissional COMPROVADA. A portuguesice
transformou esta ideia na forma de oferecer uma licenciatura completa com
quatro cadeiras a partir de um currículo profissional apenas relevante em
cargos políticos.
Lamento todo este conjunto de episódios que minam
a credibilidade do ensino superior privado e publico, criando a dúvida sobre princípios
que por si são importantes, o reconhecimento pela academia de que existem
saberes e competências que podem ser adquiridas fora da universidade, mas
trabalhando mesmo e fazendo prova desses saberes e competências ou, a situação
de hoje, a possibilidade de alguém poder matricular-se em uma ou várias
cadeiras para adquirir conhecimentos numa determinada área. A forma como a imprensa trata estas matérias tambem nem sempre contribui para que se perceba com clareza a diferença entre pricípios, práticas e instituições.
Fico triste com esta situação mas não
surpreendido, conheço o terreno que pisamos.
Espero que o trabalho em curso pela A3ES, de
avaliação e acreditação de todo o ensino superior possa ser um contributo para
a defesa e promoção da qualidade, e funcione como forma de pressão para uma
maior regulação das instituições.
Há já algum tempo que sou frequentadora do seu blog, está na minha lista de preferidos.
ResponderEliminarE é só para dizer que a sua escrita é uma delícia, assim como as suas abordagens, são inteligentes e muito interessantes.
Agradeço-lhe a gentileza da apreciação e agradeço também a companhia na leitura das notas que aqui vou deixando
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