O MEC divulgou hoje uma nota informando sobre o
encerramento de mais 239 escolas do 1º ciclo. Retomo algumas notas sobre esta
questão que é multidimensionada e nem sequer é apenas do foro educativo.
Durante décadas de Estado Novo, tivemos um país
ruralizado e subdesenvolvido. Em termos educativos e com a escolaridade
obrigatória implantada, o princípio era “levar uma escola onde houvesse uma
criança”. Tal entendimento minimizava a mobilidade e a abertura de horizontes sempre
a evitar. No entanto, como é sabido, os movimentos migratórios e emigratórios
explodiram e o interior entrou em processo de desertificação o que, em conjunto
com a decisão de política educativa referida acima, foi criando um universo de
milhares de escolas, sobretudo no 1º ciclo, com pouquíssimos alunos. Como se
torna evidente e nem discutindo os custos de funcionamento e manutenção de um
sistema que admite escolas com 2, 3 ou 5 alunos, deve colocar-se a questão se
tal sistema favorece a função e papel social e formativo da escola. Creio que
não e a experiência e os estudos revelam isso mesmo. Parece pois ajustada a
decisão de em muitas comunidades proceder a uma reorganização da rede de que
hoje se escreve mais um capítulo.
É também verdade que muitas vezes se afirma que a
“morte da escola é a morte da aldeia”. No entanto, creio que será, pelo menos
de considerar, que os modelos de desenvolvimento económico e social possam
começar a matar as aldeias e, em consequência, liquidam os equipamentos
sociais, e não afirmar sem dúvidas o contrário.
Neste cenário, a decisão de encerrar escolas não
deve ser vista exclusivamente do ponto de vista administrativo e económico, não
pode assentar em critérios cegos e generalizados, esquecendo particularidades
contextuais e, sobretudo, não servir como tudo parece servir em educação, para
o jogo político, local ou nacional.
Este processo de reorganização da rede, de
construção dos centros escolares e da constituição dos mega agrupamentos, com
números completamente comprometedores da qualidade e, portanto, inaceitáveis, não
ocorre sem riscos sérios.
De há muito que se sabe que um dos factores mais
contributivos para o insucesso, absentismo e problemas de disciplina escolar é o
efectivo de escola. Não é certamente por acaso, ou por desperdício de recursos,
que os melhores sistemas educativos, lá vem a Finlândia outra vez, e agora os
Estados Unidos ou o Reino Unido na luta pela requalificação da sua educação,
optam por estabelecimentos educativos que não ultrapassam a dimensão média de
500 alunos. Sabe-se, insisto, de há muito, que o efectivo de escola está mais
associado aos problemas que o efectivo de turma, ou seja, simplificando, é pior
ter escolas muito grandes que turmas muito grandes, dentro, obviamente dodos limites razoáveis. É certo que o MEC faz o
pleno, aumenta o número de alunos por escola e o número de alunos por turma, como é hábito o Ministro Nuno Crato cita ou ignora estudos, experiências e
especialistas, nacionais ou internacionais, conforme a agenda que lhe é favorável.
As escolas muito grandes, com a presença de
alunos com idades muito díspares, são autênticos barris de pólvora e contextos
educativos que dificilmente promoverão sucesso e qualidade apesar do esforço de
professores, alunos, pais e funcionários.
Por outro lado, a experiência já conhecida mostra
casos de distâncias grandes entre a residência dos miúdos e os centros
escolares, levando que devido à difícil gestão dos transportes escolares, os miúdos
passem tempos sem fim nos centros escolares, experiência que não é fácil, sobretudo para os miúdos mais pequenos.
Em síntese, aprece-me razoável que algumas
escolas do 1º ciclo sejam encerradas mas com critérios não exclusivamente
burocratizados e administrativos, como a análise simples do número de alunos.
Sou psicóloga e durante alguns anos da minha actividade profissional trabalhei num Concelho do interior do Alentejo em que 50% das escolas teriam pouco mais do que 10 alunos. Constactei tudo o que os estudos apontam. Conudo, para um aluno com dificuldades (sejam elas de que natureza forem) é como que se lhe tivesse saído a "taluda" (sorte grande)! Lá está, as duas faces da moeda... Ok! Os meninos terão acesso a Centros de Recursos, a Actividades de Enriquecimento Curricular, ao seu grupo de "pares" mais diversificado... tudo isso! Perderão o almocinho da avó recheadinho de afecto, a brincadeira intergeracional no largo da Vila/Aldeia, a liberdade duma vivência campesina e identitária culturalmente.
ResponderEliminarNão, sem dúvida, no Centro de Recursos até poderemos ter um extaordinário animador cultural, a recibos verdes, sensibilizando para qualquer área artística.
A questão é: Educação?! O que é, para onde caminhamos?
Na verdade não é fácil estabelecer o equilíbrio mas, pelo menos, estar atento aos riscos dos grandes espaços escolares, ao tempo excessivo que muitos miúdos passam nesses espaços, ao tipo de actividades proporcionadas, etc. é importante
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