Como é evidente, qualquer
processo em que intervenha a mão humana é susceptível de erro, trata-se
simplesmente da falibilidade de qualquer de nós.
Dito isto, existem, no entanto,
circunstâncias em que erros ou dificuldades acabam por espelhar, também, pecados
estruturais nos processos que estão envolvidos. Serve esta introdução para uma
nota sobre o mais recente episódio da novela trágica que envolve, tem envolvido
e vai envolver a definição do quadro docente das escolas e agrupamentos para o
próximo ano lectivo. O MEC anunciou o prolongamento do prazo para que os descartáveis
recicláveis, os professores contratados, façam a sua "manifestação de
preferências", que raio de nome!
Esta gente, os descartáveis
recicláveis, são, boa parte dela, gente com muitos anos de serviço, que de um momento para o outro viram o mundo fugir debaixo dos seus
pés, tem passado os últimos dias sentada com ansiedade e angústia em
frente a um computador para proceder à sua "manifestação de
preferências", que em muitos casos resumirá a um simples e famoso enunciado cavaquista,
"deixem-nos trabalhar". O
processo tem sido caótico, lento, e impossível de completar para
muita gente como, aliás, já tinha vindo a ser referido nos últimos dias.
Todo esta matéria tem sido "conduzida"
completamente à deriva, de forma reactiva e ziguezagueante que se não entende num
Ministro que tem sido de há muitos anos um fundamentalista defensor do rigor.
No mundo da educação pública e no que respeita
aos recursos humanos não estamos a falar de uma empresa de serviços ou da
indústria que por má gestão ou mudanças no mercado deixa de ser viável e cujo
desempenho deixa de ser necessário.
Todas as grandes decisões do MEC em termos de
organização do sistema, têm como visão reduzir o número de docentes, veja-se o
que foi feito em matéria de revisão curricular, no aumento de alunos por turma
e nos agrupamentos e mega-agrupamentos, essa é a grande questão.
Aguardam-se novos desenvolvimentos desta
narrativa, pois relembro que na AR o Ministro e o Secretário de Estado,
provavelmente assustados com a reacção indignada de muita gente ou,
simplesmente porque resolveram pensar, afirmam que afinal nenhum professor com
horário zero iria dispensado e que, vejam lá, haverá professores contratados
que continuarão, "todos fazem falta", disseram numa pérola de
demagogia e hipocrisia. Toda esta gente vai ter um lugar no sistema.
Para já, têm mais dois dias para a sua
"manifestação de preferências".
Esta pouca vergonha só termina quando os professores, se unirem e acabarem de uma vez por todas com esta pouca vergonha que se vive na educação. Pensam estes governantes e outros que já por lá passaram, que o desenvolvimento de um pais se pode fazer, indo a uma qualquer universidade de amigos e pedir os diplomas que se pretendem. Não, um pais só se desenvolve com cultura. Mas aqui os professores têm culpas, principalmente os mais antigos, que não ensinaram estes governantes a pensar com a cabeça e pior que isso não lhes ensinaram o significado da palavra honestidade
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