Nos últimos dias o ambiente nas escolas e
agrupamentos tem sido marcado por um processo dramático que os testemunhos
recolhidos na imprensa junto de professores e directores, bem como o
conhecimento real de muitas situações evidenciam de forma clara. Estão a ser elaboradas
as necessidades de docentes das escolas e dos agrupamentos.
O Ministro Crato enganou-se no tiro. Tinha
ameaçado fazer implodir o Ministério mas parece no bom caminho para fazer
implodir a escola, estou a referir-me ao sistema público de educação. A um
discurso mascarado com as mágicas palavras de rigor, exigência e qualidade que
seduzia enquanto opinador bem acolhido por um sistema e uma opinião pública e
publicada a viverem o período de Maria Lourdes Rodrigues e Isabel Alçada, tem-se
seguido a definição de uma política educativa que, em aspectos essenciais, se
afigura uma ameaça ao direito constitucional de uma educação de qualidade para
TODOS os indivíduos em idade escolar.
Sabemos e compreendemos a necessidade de combater
o desperdício e conter gastos. Não compreendo nem aceito que medidas como os mega-agrupamentos,
o aumento de alunos por turma, as mudanças curriculares que parecem, acho que
são, desenhadas para poupar horas docentes, a unidade de gestão do ensino, contribuam
para a qualidade do sistema que o Ministro Crato vê certificada por exames, exames,
exames e mais exames que se constituem como um crivo que irá expelindo todos os
miúdos que nele caiam e que acabarão num qualquer campo de "trabalhos
manuais".
Eu sei, já o disse muitas vezes, entendo que as
necessidades de docentes do sistema educativo é uma questão complexa e com
múltiplas variáveis. Para além dos dramas pessoais de pessoas que com 10 ou 15
anos de serviço, sempre como contratados, a responder a necessidades das escola
ficam na contingência de perder o trabalho ou de professores do quadro que ficarão
com essa coisa chamada "horário zero" quando estão em escolas em que
a população discente aumenta em função dos agrupamentos, mas que passam à condição
de descartáveis, o processo que se está a seguir parece-me inaceitável e mau,
muito mau, para a qualidade da educação. Peço desculpa, não sou professor nesta
situação, mas isto é incompreensível, não estamos a falar de uma empresa de
serviços ou da indústria que por má gestão ou mudanças no mercado deixa de ser
viável. Os miúdos estão lá, as necessidades também mas dispensam-se os
professores alargando o trabalho dos outros com o óbvio compromisso da qualidade.
Contas de merceeiro, sem ofensa ao meu tio Eugénio, mas de um Ministro da
Educação espera-se um pouco mais.
Mais uma vez afirmo a minha ideia. Conhecendo os
territórios educativos do nosso país, julgo que faria sentido que os recursos
que já estão no sistema, pelo menos esses, incluindo professores contratados
com muitos anos de experiência, fossem aproveitados em trabalho de parceria
pedagógica, que se permitisse a existência em escolas mais problemáticas de
menos alunos por turma ou ainda que se utilizassem em dispositivos de apoio a
alunos em dificuldades.
Os estudos e as boas práticas mostram que a
presença de dois professores na sala de aula são um excelente contributo para o
sucesso na aprendizagem e para a minimização de problemas de comportamento bem
como se conhece o efeito do apoio precoce às dificuldades dos alunos.
Sendo exactamente estes os dois problemas que
afectam os nossos alunos, talvez o investimento resultante da presença de dois
docentes ou de mais apoios aos alunos, compense os custos posteriores com o
insucesso, as medidas remediativas ou, no fim da linha, a exclusão, com todas
as consequências conhecidas.
É só fazer contas. E nisso o Ministro Nuno Crato
é especialista. O problema é que os miúdos, os professores, as escolas, na sua
enorme diversidade de necessidades e problemas não cabem numa folha de Excel.
Isto, creio e lamento, o Professor Nuno Crato não
vai entender nunca.
Quanto a mim, oxalá o sistema impluda o mais depressa possível. Pior do que isto, só mesmo nos próximos meses, pico em Setembro, ou Outubro. Mas aí, será tarde para tantas coisas! Intuo que até lá, nada de grave se vai passar. E tenho pena.
ResponderEliminarAbraço e bem hajas pela clareza.