Desde há muito que entendo, como muitas outras pessoas, que a função Direcção de Turma assume
um papel central no nosso sistema educativo, sendo, lamentavelmente, pouco
cuidadas e promovidas as condições para o seu desempenho com qualidade. Na
verdade, a actividade do DT, para usar a linguagem dos miúdos, tem um conjunto dimensões
de extraordinária importância. Vejamos alguns aspectos, obviamente conhecidos,
sem preocupação de hierarquia.
O DT é o interlocutor dos pais e encarregados de educação.
Toda a comunicação e relação entre a família e a escola, cuja relevância é
dispensável acentuar, assentam no DT. A realização das Reuniões de Pais e
Encarregados de Educação, a comunicação regular entre pais e escola são
dispositivos da sua responsabilidade e a forma como a sua função é desempenhada
pode ser um fortíssimo contributo para o envolvimento mais eficaz e positivo
dos pais na vida escolar dos miúdos.
O DT é um mediador entre os miúdos e a escola, ou seja, pode
e deve ser um regulador da relação dos miúdos com os colegas, tentando perceber
fragilidades ou dificuldades, com outros professores, detectando questões ou
aspectos que careçam de alguma atenção e eventual intervenção.
O DT pode, no trabalho que realiza com os miúdos, providenciar
informação, orientação, apoio, etc., para as inúmeras dúvidas que nas
diferentes idades se podem colocar aos alunos. Informação sobre o estudo e como
estudar, informação sobre trajectos escolares face à oferta educativa, promoção
de competências sociais, analisando e discutindo problemas do quotidiano
escolar ou pessoal potenciando a formação pessoal dos alunos, etc.
Apenas com estes exemplos, e não passam disso, sempre
entendi com alguma dificuldade que a escolha para DT não fosse realizada
fundamentalmente com critérios de perfil, motivação e experiência,
possibilitando situações em que, mais um exemplo, a escolha é apenas para
aumentar a carga horária de um docente, atitude meritória e solidária, mas que,
por vezes, não serve os objectivos.
Por outro lado, também sempre sinto uma enorme dificuldade
em entender a carga burocrática e administrativa que foi sendo colocada nos DTs
inibindo a utilização do tempo para a função de forma mais útil e adequada. É
óbvio que o excesso de carga burocrática na escola não é um exclusivo dos DTs.
Também estranho a pouca atenção, relativa, à formação que em
regra é disponibilizada dirigida à função DT. Julgo que aspectos como gestão de
conflitos, percepção de sinais de risco nos miúdos e nos seus comportamentos,
organização e gestão de reuniões de pais ou modelos e técnicas de estudo, poderiam
ser ferramentas úteis para o desempenho com mais qualidade dessa função
essencial.
Finalmente, tenho dificuldade em entender, mas não estranho,
que o tempo previsto para o exercício da função DT tenha sido reduzido pelo recém-publicado
normativo de organização das escolas e agrupamentos, conforme afirmam a
Associação Nacional dos Dirigentes Escolares e o Conselho das Escolas, órgão consultivo do MEC mas não consultado, estendendo as duas estruturas as suas críticas a outros aspectos do normativo, solicitando, aliás, a sua revisão urgente.
Na verdade, quem conhece o universo das escolas, reconhece a
importância da função DT e todos conhecemos professores que pelas suas
qualidades pessoais e profissionais são muito bons exemplos do que é ser um DT.
Lamentável é que seja o MEC a desvalorizar essa função, subtraindo-lhe condições
para melhorar o seu imprescindível exercício.
Na realidade o tempo para DT não foi diminuído. Mantém 90 minutos.
ResponderEliminarPelo contrário, este despacho até prevê que, havendo necessidade, possam ser alocadas mais horas / tempos.
Sendo assim, melhor,má informação divulgada. De qualquer forma, dada a importância da função, creo que seriam necessárias mais condições, mais formação e menos burocracia. Obrigado
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