O Público refere-se a uma experiência desenvolvida numa
escola do 1º ciclo de Portimão envolvendo alunos com professores na supervisão
dos espaços de recreio, num projecto designado, curiosamente, por PSP, (Patrulha
de Segurança do Pontal). Os pais dos alunos de uma das turmas terão rejeitado a
ideia, considerando-a “antipedagógica" e propiciadora de "situações
de bullying". A escola suspendeu a participação destes alunos no projecto.
Não conhecendo, naturalmente, os contornos mais específicos,
da prática desenvolvida, creio que o envolvimento de miúdos em programas de
supervisão me parece um bom princípio. São de todos conhecidos as vantagens de
programas de tutoria, ou seja, o envolvimento de alunos em experiências
educativas de alunos menos experientes ou mais novos.
No entanto, como também será claro, devem ser acauteladas
situações menos positivas como, é referido na peça, a supervisão poder implicar
a “denúncia” de colegas com comportamentos inadequados, o que pode, na verdade,
fomentar situações de risco.
De qualquer forma, a propósito desta questão, os recreios
escolares, algumas notas. É reconhecido que os problemas mais significativos
sentidos nas escolas, indisciplina, violência, delinquência, bullying, etc.
ocorrem em grande parte nos recreios pelo que, afirmo-o muito frequentemente,
me parece fundamental que se dê atenção educativa aos tempos e espaços de
recreio escolar.
Em muitas escolas a insuficiência de pessoal
auxiliar, agora baptizados “assistentes operacionais” não permite a ajustada
supervisão desses espaços. Por outro lado, a sua formação em matérias como
supervisão educativa e mediação de conflitos, por exemplo, e, ou, o
entendimento que têm das suas competências, muitas não valorizadas pela própria
comunidade, leva a alguma negligência ou receio de intervenção.
Talvez não seja muito popular mas digo de há
muito que os recreios escolares são dos mais importantes espaços educativos,
aliás, muitas das nossas memórias da escola, boas e más, passam pelos recreios.
Neste sentido, defendo que a supervisão dos intervalos deveria ser da
responsabilidade de docentes e, porque não, envolvendo também alunos.
A reestrutura da enorme carga burocrática do
trabalho dos professores, dos modelos de organização e funcionamento das
escolas, por exemplo, poderiam libertar horas de docentes para esta supervisão
que me parece desejável.
A boa e atenta “profes-vigilância” é mais eficaz
que um invisível “big brother”, por exemplo a vigilância electrónica, que
alguns defendem, ou a presença regular inviável e indesejável de elementos
forças de segurança nos espaços escolares como já tenho ouvido defender.
Neste quadro, as experiências como a da Escola de Portimão
devem ser analisadas, avaliadas, de forma serena e perceber se sim, ou não,
podem constituir contributos interessantes para climas de escola mais
positivos.
"... Neste sentido, defendo que a supervisão dos intervalos deveria ser da responsabilidade de docentes e, porque não, envolvendo também alunos."
ResponderEliminarEsta supervisão deve e é feita em muitas escolas (do 1º ciclo). Os intervalos existentes são para as crianças, pois os docentes estão no seu tempo letivo.
Este projeto aqui mencionado, envolvendo crianças da escola, já decorre noutras escolas e quando, devidamente acompanhado pelos funcionários (muitas das vezes escassos) e pelos professores, vingam.
Já agora, parabéns pelo seu blogue.
Caro Sampaio,
ResponderEliminarObrigado, a minha nota considera sobretudo os recreios em escolas de 2º, 3º ciclos e secundário onde, como sabe,raramente os docentes estão envolvidos na supervisão dos recreios. O 1º ciclo, também nesta matéria, é uma realidade diferente embora com questões comuns
De facto (desculpem-me a teimosia entre factos e fatos, é uma questão de integridade pessoal), os intervalos são o momento caricato onde os professores correm literalmente naquele espaço perigoso entre a sala de aula e a sala de professores, refugiando-se nesta última, alheios aos alunos e às dinâmicas entre estes para depois dizer muito inocentemente "o que se passa?" em situação de conflitos nas aulas. A responsabilidade é um conceito com conotação negativa nesta área.
ResponderEliminarNesta temática deixo só aqui uma literatura que poderia ser muito pedagógica para a nossa educação, não fossem os confrontos com a nossa cultura: Japan as Nº1 por Ezra F. Vogel tem o capitulo "Basic Education: Quality and Equality" que recomendo.
Tenho quase tantos anos de idade como Matusalém e posso parecer-vos bacoco e retrógrado, mas no meu tempo escolar os alunos vigiavam-se na ausência do Professor e escreviam no quadro de lousa o nome dos mal comportados, as coisas corriam bem e não vinha mal nenhum ao Mundo. PONTO FINAL!
ResponderEliminarA partir do momento em que começou a haver muitos técnicos a discutir comportamentos e situações,os problemas começaram a surgir em catadupa.
"Não fales muito no fogo que inspiras o incendiário"
Sei que vão dar-me razão ao "parecer-vos bacoco e retrógrado"
Muito obrigado!
Mais um problema para um técnico resolver...
saudações
Prof.José Morgado, na realidade a vigilância dos recreios é um problema que existe nas escolas. As regras do seu funcionamento, partem das "orientações" do gabinete do diretor. Em algumas escolas do 1º ciclo, é feita uma escala, onde consta o nome de 1 professor para cada dia da semana estar a supervisionar o recreio, além das "assistentes operacionais" que são duas ou três. Se pensarmos em 200 crianças...não é possível uma supervisão mínima. Os diversos acidentes acontecem, Sim. Seriam necessários todos os professores. Mas nestes 30 minutos, também são utilizados para reuniões,com a coordenadora, na escola. Os professores de Educação Especial, tem um furo no seu horário, nestes 30 minutos, não sendo atribuído pelo gabinete de direção, componente letiva ou não letiva.E mesmo fora de serviço,estão presentes na escola.
ResponderEliminarNo 2º e 3º ciclo, é verdade! Sim, os alunos estão sozinhos nos recreios. E Aqui não são 200 alunos, mas muitos, muitos mais. E aqui, estão incluídos os alunos com NEE, nomeadamente, alunos das UEE (autismo), T21, Microcefalia, etc, etc. Nesta situação não há escalas de pessoal, docente ou não docente para supervisionar os alunos. No entanto, algumas professoras de E.Especial, prescindem desse tempo, e ficam com os seus alunos no recreio, porque não é possível que estes jovens, estejam sozinhos. O que significa que em muitos casos, felizmente, ainda se encontram alguns professores, assim. Supervisionam os seus alunos a troco de proteção que eles necessitam, e que não é contemplada na organização de "alguns" agrupamentos (não generalizo), entre outras coisas. E assim vamos vivendo...com outra verdade, também...os diretores e adjuntos que exercem o poder são professores...em principio seria suposto existir uma boa gestão...ou não.
Muito obrigado, pelos seus textos, sempre pertinentes e atentos às situações.
É dessa realidade que eu falo no texto, não tem que ser assim.
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