No Público de hoje, no âmbito do dia 1º de Maio,
estão duas peças que retratam faces preocupantes dos tempos que atravessamos, o
desemprego e a perda de direitos no mundo do trabalho.
É sabido como a qualidade do trabalho e o
conjunto dos direitos protectores de quem trabalha, estão sob ameaça séria na
tentativa, dizem, de "flexibilizar", ou seja, deixar quem trabalha ou
procura trabalho, entregue às leis de um
mercado sem alma nem ética para quem as pessoas são activos descartáveis.
A situação de desemprego é algo de absolutamente
devastador, perto dos 20% de desemprego real, 35% de desemprego jovem, subida
exponencial de casais em que ambos estão desempregados.
Cresce o número de desempregados sem subsídio,
estima-se em perto de meio milhão. Acresce que os valores médios de subsídio de
desemprego também estão a baixar.
Há tempos foram divulgados alguns dados
referindo-se que cerca de 200 000 pessoas já terão desistido de procurar
emprego e já não constam dos números do desemprego que oficialmente estará nos
15%.
Este quadro impressionante levanta uma terrível e
angustiante questão. Os milhares, muitos, de pessoas envolvidas vão
(sobre)viver de quê? As histórias de vida retratadas no Público são
dramaticamente elucidativas.
Afirmo com frequência que uma das consequências
menos quantificável das dificuldades económicas, sobretudo do desemprego, em
particular o de longa duração, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas.
Sabemos que se verifica oportunismo e fraude no acesso aos apoios sociais, mas
a esmagadora maioria das pessoas sentem a sua dignidade ameaçada quando está em
causa a sobrevivência, o sustento, a que só se acede pela “mão estendida” que
envergonha, exactamente por uma questão de dignidade roubada.
O trabalho, melhor ou pior remunerado, é sempre,
quase sempre, o suporte do nosso bem-estar e um importante contributo para o
bem-estar dos que nos são próximos. Nesta perspectiva, quando dizemos que um em
cada cinco portugueses em idade activa estará desempregado, seria mais realista
e certamente mais dramático, tentar perceber quantos portugueses, em termos
globais, serão afectados por cada activo desempregado. Nem é necessário
considerar apenas famílias em que ambos os adultos activos estão desempregados.
Estou a pensar no impacto nos orçamentos familiares envolvendo filhos e outras
pessoas a cargo comprometendo, muitas vezes de forma significativa, a qualidade
de vida de todo o agregado.
Estou a
pensar no ambiente de angústia, ansiedade e tristeza vivido em muitos lares e
que não podem deixar de afectar a segurança e a confiança que alimentam o sonho
e a vida. Estou a pensar … que, lamentavelmente os discursos se centram
demasiado num argumentário político estéril e pouco respeitador dos problemas
dramáticos que verdadeiramente estão em jogo. É a vida das pessoas, apenas.
Estou desempregada e o que acabei de ler assenta-me como uma luva! Sinto o estigma de estar (ser?) desempregada quando deixo os meus filhos na escola e venho para casa porque não tenho mais para onde ir. Aqui entro na minha ronda diária de procura de trabalho e envio de CVs que enchem as BDs das empresas de recrutamento e as caixas de email que recebem propostas. É mais um ali no meio. Mas o estigma assume-se na plenitune nas apresentações quinzenais obrigatórias na junta de freguesia... estamos na fila e vejo que as pessoas se esforçam por não cruzar olhares. Vergonha, sem dúvida! A mim a tristeza assalta-me quando os meus filhos me perguntam: "Ó mãe, já encontraste um tostão novo?" a que se segue um "Não filho, hoje não, mas vou encontrar"... É injusto e luto todos os dias para manter a dignidade que me tentam tirar um pouco todos os dias. E para já consigo fazê-lo com a ajuda do meu marido e dos meus filhos. Pergunto-me: "e quando a força mental não morar aqui?". A ver... um dia de cada vez!
ResponderEliminarSão realmente retratos que nos angustiam, mesmo a quem tem trabalho e vê tanta e tanta gente aflita em seu redor, ajudando como pode, mas começando a margema encurtar drasticamente para todos que trabalham.
ResponderEliminarTemos de dar a volta a isto e tentar protestar contra estas polititicas que não levam a nada que não à miséria.Temos de fazer valer a nossa cidadania para alterar isto a que dizem não haver alternativas, o que é falso!
Força, BlueButterfly! Não há que ter vergonha nenhuma! O que importa é não cair nessa tal depressão!
E vergonha deviam ter os que põem o país a pão e água com total insensibilidade e "crendo" em teorias económicas absurdas.
Muita força!
BlueButterfly, Serve de pouco mas aqui fica um abraço de solidariedade. Como diz, um dia de cada vez, vamos confiar que há futuro para os nossos miúdos, apesar do presente.
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