Durante este fim de semana no Meu
Alentejo, a lida, que é sempre variada e tem por onde escolher embora o tempo
dite prioridades, contemplou a criação de umas casas de melão sempre com a
esperança que os consigamos provar antes da bicharada com quem divido o monte,
numa espécie de cooperação forçada, nós plantamos e a bicharada come, melros,
pardais, coelhos, saca-rabos, codornizes, uma ou outra raposa que por lá passa,
enfim, uma concorrência que se aceita mas exaspera.
No fim, o Mestre Marrafa deu um
jeito na terra para deixar as casas de melão de modo a serem regadas.
Perguntei-lhe se era necessário regar pois sempre houve melão de sequeiro no
Alentejo.
O Velho explicou, naquele jeito
sorridente com os olhos pequenos e pretos a brilhar. No tempo em que chove
muito, o melão aguenta-se de sequeiro, mas tem que levar uma charruada funda. O
melão gosta de uma charruada funda, a terra fica fabricada e quando chove, a água entra fundo e a
terra cria sangue. Se não for uma charruada funda a água não entra muito, seca
depressa e o melão não aguenta sem rega, a terra não cria sangue para o melão.
Fiquei a olhar para ele e a
pensar como, provavelmente, a metáfora do sangue que a terra cria, mas só com
uma charruada funda, não tem a ver só com melões. Tem tudo a ver com connosco, com
as pessoas.
Nos tempos que vivemos, em que
quase tudo é pressa, quase tudo é imediato, quase tudo é transitório, quase
tudo é de plástico, nem sempre passamos por uma charruada funda para nos
fazermos mais pessoas.
Se bem repararmos, logo de
pequenos, temos a enorme tentação e
incentivo para que nos construamos com base em dimensões ligeiras, consumos
ligeiros, vidas ligeiras, com nuvens passageiras
que logo secam e outras aparecerão, igualmente leves, substituindo as
primeiras, num frenesim sem paragem.
Assim, a vida não cria sangue,
não tem substância que a alimente a sério, de forma sólida, capaz de aguentar os tempos até se fazer
grande.
Ficam vidas pequenas, não medram.
Não criam sangue que as alimente.
Já Miguel Torga, o poeta da Terra,nos dizia neste poema que todo o EMPENHO é SOFRIMENTO.
ResponderEliminarMas todo o semeador
Semeia contra o presente
Semeia como vidente
A seara do futuro
Sem saber se o chão é duro
E lhe recebe a semente.
Também se aplica à vida das pessoas.
saudações