Felizmente que a questão do Acordo Ortográfico permanece viva e enquanto assim for continuarei a afirmar a minha discordância.
Depois da agitação decorrente da decisão de Vasco Graça Moura de suspender a sua utilização no CCB, surgiu a notícia sobre a ausência de posição institucional da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e posteriormente o muito significativo editorial do Jornal de Angola com a expressão de uma opinião francamente desfavorável ao Acordo Ortográfico. Ainda bem.
Entretanto têm vindo a suceder-se iniciativas e tomadas de posição no sentido de tentar até ao limite contrariar a sua implantação, relembro que Angola e Moçambique ainda não o subscreveram, sendo, creio, pouco provável que após a posição expressa no Jornal de Angola, muito próximo do governo, as autoridades de Luanda o venham a fazer.
Ainda bem, torno a escrever.
Hoje noticia-se a decisão de um juiz de Viana do Castelo de não aplicar o Acordo Ortográfico nos textos produzidos no Tribunal. Como seria de esperar, o juiz fundamenta a sua decisão.
Neste quadro, enquanto a questão não estiver definitivamente encerrada retomo, e retomarei, a minha breve e não técnica reflexão sobre o que me parece estar em causa e expresso teimosamente o meu profundo desacordo com o Acordo.
Do que tenho lido e ouvido, nada me tem convencido da sua bondade ou necessidade. Entendo que as línguas são estruturas vivas, em mutação e isso é importante. Neste cenário, é clara a necessidade de ajustamentos, por exemplo, a introdução de palavras novas ou mudanças na grafia de outras o que não me parece sustentação suficiente para o que o Acordo Ortográfico estabelece como norma. Já estou cansado do argumento da “pharmácia” quando se pode verificar que em todos os países, e são muitos, em que o termo tem a mesma raiz, a grafia é com “ph” e nada de muito grave acontece. A introdução ou mudança na grafia tem acontecido em todas as latitudes e não tem sido necessário um Acordo com os conteúdos bizarros, alguns, que este contém.
Por outro lado, a grande razão, a afirmação da língua portuguesa no mundo, também não me convence pois não me parece que o inglês e o castelhano que têm algumas diferenças ortográficas nos diferentes países em que são língua oficial, experimentem particulares dificuldades na sua afirmação, seja lá isso o que for. De facto não tenho conhecimento da perturbação e do drama com origem nas diferenças entre o inglês escrito e falado na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas isto dever-se-á, certamente, a ignorância minha e à pequenez irrelevante daquelas comunidades anglófonas.
Por outro lado, a opinião dos especialistas não é consensual, longe disso, temos regularmente exemplos disso mesmo, e eu sou dos que entendem que em todas as matérias é importante conhecer a opinião de quem sabe.
Neste quadro e como sou teimoso vou continuar a escrever em desacordo até que o teclado me corrija. Nessa altura desinstalo o corrector que venha com o acordo e vou correr o risco de regressar à primária, ou seja, ver os meus textos com riscos vermelhos por baixo de algumas palavras, os erros.
Não é grave, errar é humano.
No entanto, como toda gente, não gosto de errar, pelo que preferia continuar a escrever desacordadamente.
Este acordo é simplesmente um desacordo com a nossa linguagem, cultura e identidade. Um atentado, para ser mais preciso.
ResponderEliminarConcordo em absoluto com a sua posição. Também escrevo militantemente o Português que aprendi e não o do (des)Acordo que o maior bando de ineptos e vigaristas que nos desgovernou - os socratinos - nos quis à força impingir, antes do tempo e contra todas as regras: as da escrita e as do bom senso.
ResponderEliminarÉ triste que aqueles que prezam o Português estejam agora dependentes dos angolanos e dos moçambicanos para obviar à entrada em vigor desta idiotice.
Termino sugerindo que corrija o título do seu texto, pois falta um 'da' em 'desacordamente'.
Caro Eduardo, obrigado pelo reparo. Já está corrigido.
ResponderEliminarProponho-lhe a assinatura da I.L.C.
ResponderEliminarcontra o ... «coiso». - Creio que já deve estar a par.
http://ilcao.cedilha.net
Enquanto o juiz de Viana não lê a sentença ao governo, é o que nos sobra, aos comuns dos mortais.
Cumpts.