Conforme anunciado confirma-se a institucionalização de exames nacionais em final de ciclo, no 6º ano já neste ano lectivo e no 4º ano no final do próximo. No primeiro ano de funcionamento terão uma ponderação de 25% na nota final, passando a 30% depois do segundo ano da medida.
Nada de novo, corresponde ao entendimento que o Ministro Nuno Crato sempre demonstrou sobre os exames e que, como já tenho referido, devo confessar que tenho alguma dificuldade em entender.
Na verdade, desde há muito que boa parte do seu pensamento educativo, se assim se pode chamar, se centra na promoção de mais exames como forma de melhorar a qualidade e os resultados dos alunos. Não estando, evidentemente, em discussão a importância, a vários níveis dos exames, escapa-me como o seu aumento produza, só por si, qualidade e mudança. Como costumo afirmar, é como se acreditássemos que medindo muitas vezes a febre esta acabará por baixar.
Continuo sem perceber como é que, objectivamente, a introdução de mais exames contribui para a qualidade da educação em termos genéricos e torna mais bem sucedido o trabalho de alunos e professores, partindo do princípio de que os exames não servirão para promover "administrativamente" bons resultados. Os discursos que oiço na defesa dos exames não explicitam os ganhos de que aí advirão em termos de qualidade. Há semanas, a Secretária de Estado do Ensino Básico afirmava em profunda reflexão que é importante que os meninos se habituem a realizar provas de conhecimento. Sem dúvida, mas para isso são necessários exames nacionais?
A introdução de mais exames como panaceia da qualidade promove, do meu ponto de vista, o risco do trabalho escolar se organizar centrado na preparação dos alunos para a multiplicidade de exames que realizam, ou seja, como me dizia há tempos um professor do ensino secundário, "o trabalho com os alunos é muito interessante mas a partir de certa altura sou eu e eles contra os exames".
A qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados e de vias diferenciadas de percurso educativo para os alunos sempre com a finalidade de promover qualificação profissional, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc. O problema é que de há muitos anos a educação anda à deriva das agendas políticas.
A defesa de mais exames, como muitas vezes é feita, corre o risco de sustentar um discurso demagógico, as referências a exigência e a rigor vendem bem, que deixa de lado os aspectos mais essenciais, a necessidade de promover qualificação para todos, sublinho todos, os alunos. Esta qualificação pode obter-se em diferentes níveis, desde o curso profissionalizante de curta duração até ao doutoramento. E nesta perspectiva continuo pouco convencido da imprescindibilidade de mais exames.
Concordo plenamente. Ficou apenas por dizer que o pretenso intuito dos exames é também responsabilizar pais, alunos e professores. É a lei, direita e moderna, da competitividade, do mérito, da teoria de Darwin aplicada ao sucesso profissional. Merda de política.
ResponderEliminarquando todos sabemos que gente pensante não interessa aos governos.
ResponderEliminarComo é evidente, não está em causa a necessidade de avaliar de forma séria e adequada as aprendizagens dos alunos, a questão é que a aposta nos exames como mãe da qualidade é falhada. Como diz, não só na educadação, temos uma espécie de neodarwinismo social, o mundo é dos fortes, miúdos pouco competentes, indisciplinados ou com necessidades especiais só atrapalham
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