Se a minha avó Leonor ainda estivesse entre nós, ouviríamos seguramente uma das suas expressões favoritas, “nestes troca-tintas, as trafulhices estão na massa do sangue”, eu diria, é algo de estrutural, mesmo quando variam as conjunturas nada se altera.
No Público de hoje lê-se que um senhor, o Dr. Mota, foi até Dezembro vice-presidente da Administração Central do Sistema de Saúde. Passado pouquíssimo tempo, um outro serviço do Ministério da Saúde, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde procedem ao ajuste directo no valor de 54 000 euros a uma empresa, oportunamente criada a 1 de Fevereiro pelo Sr. Dr. Mota, o que tinha saído do Ministério e em cuja casa a empresa ganhadora tem sede, num cabal exemplo da sua dimensão e presença no mercado.
Não, não fico admirado, lamentavelmente já não consigo. Ainda penso num palavrão de revolta e indignação, mas rapidamente volto a um encolher de ombros, mais ou menos resignado, de que resulta este texto. Na verdade, isto não muda, ninguém está verdadeiramente interessado em que isto mude.
Virão, já vieram, as justificações do costume, era a melhor proposta e cumpriu-se a lei. Claro, ou não fosse a lei preparada para que estes procedimentos nela tenham a sustentação branqueadora.
A questão, como sempre, não é de lei é de ética, é de princípios básicos de transparência, e estas dimensões estão praticamente em vias de extinção. Também não adianta clamar contra os malandros dos políticos ou das lideranças de outras áreas, todos os que chegam ou têm chegado ao poder, que alimentam este cenário e dele se alimentam, em muitíssimas situações de promiscuidade entre negócios e política, entre carreira políticas e carreiras empresariais, entre … etc. É verdade que nos podiam poupar aos discursos, à retórica estéril, ao fingimento de virgens ofendidas sobre intenções ou justificações, poupávamos na poluição ambiental.
Mas não, não é um exclusivo das elites políticas ou de outra natureza, este funcionamento toca-nos a todos, de uma maneira ou de outra, é uma questão de escala, todos recebemos, ou fazemos, um favorzinho, uma atençãozinha, nada de grave é claro, é a cidadania do esquema.
Poderíamos proceder de outra forma? Duvido, de qual forma não seria a mesma coisa.
Existem esquemas muito mais esquematizados que um simples favorzinho.
ResponderEliminaro que é certo é que me parece que a vontade de mudar, de alterar comportamentos não cria raízes.
Uma cidadania complicada e intrincada!
O silêncio do povo tem sido ensurdecedor.
Um resto de bom dia
A génese da história de Portugal é a chegada dos primeiros hominídeos à Península Ibérica à cerca de 1,2 milhões de anos.
ResponderEliminarAcontece que a Moody's desse tempo classificou os hominídeos com a LETRA "C" ou seja, de BAIXA QUALIDADE,SEM INTERESSE.
Depreende-se, portanto, que a cidadania do esquema nos portugueses é INATO e não há forma de mudar.
Não excluo excepções das quais os visitantes deste POST fazem parte.
NÃO É ASSIM?!
saudações